quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Santo Cartão de Crédito!




Já há algum tempo as grandes redes de varejo (pelo menos as que atuam no Brasil) descobriram que receber clientes oferecendo-lhes um cartão de crédito é melhor do que cumprimentando-os com “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite”. Para quem não resiste a um parcelamento a perder de vista (e essa é uma fatia grande dos consumidores brasileiros), não há nada mais simpático: um cartão sem anuidade, que sai na hora e lhe permite dividir até um pãozinho em dez vezes ali, naquela loja.
Mas nada vem de graça. Por isso, nós resolvemos ir a campo, para ler as letras miúdas escondidas por trás dos sorrisos largos dos vendedores de felicidade. Fomos identificar também os erros que os próprios consumidores acabam cometendo ao aderirem a esse tipo de “facilidade”, não analisando a real necessidade daquele cartão e sua própria capacidade financeira para utilizá-lo.

O que ninguém sabe

A primeira parada foi numa famosa rede de roupas, onde, antes mesmo de eu chegar à porta, um simpático vendedor se aproximou: “Olá, senhor. Vamos fazer o nosso cartão? Não tem anuidade, só paga quando comprar e você ainda pode utilizá-lo no McDonald’s”. Respondi, também simpaticamente: “Opa, que legal. E o que eu preciso fazer?” O rapaz falou que bastava apresentar CPF, RG e comprovante de residência.
Quando perguntei a taxa de juros do cartão, ele me olhou espantado, com uma cara de “ninguém nunca me fez essa pergunta” e disse que não sabia. Agradeci e parti para a próxima. Repeti o mesmo modus operandi em outras três lojas, e em todas a resposta foi a mesma. Nenhum vendedor tinha conhecimento sobre algo de que o comprador deveria ser informado.
Tudo bem. Essa informação deveria constar mesmo no contrato, que consumidor nenhum poderia assinar sem ler. Fiz o teste, então, em uma agência de uma empresa que é especializada na comercialização de cartões e empréstimos, onde os vendedores “catam” interessados na rua. Sentei e resolvi dar entrada em um cartão.
Fácil demais, como em todos os casos com os quais me deparei até ali. Só precisaria apresentar uns poucos documentos e aguardar 30 minutos, que o cartão, com crédito para compras e limite para saques, estaria em minhas mãos. Foi nessa agência que ouvi as respostas mais interessantes.
No meio da transação, com a vendedora já animada por estar fechando uma venda, resolvi perguntar pela tal taxa de juros, assim meio que só por querer saber, não dando sinais de que aquilo poderia me fazer desistir. Ela, bem descontraída, disse que não sabia, mas que perguntaria a alguém ao lado. Foi quando ouvi um descarado “depende”. E aí não me contive e perguntei de que dependia. “Da sua renda, senhor, do valor, do tempo de atraso. Mas não se preocupe, que só paga juros se atrasar”.
Bem, mas a conversa não acabou por aí. Perguntei também por esse tal de crédito que eu teria para sacar. E aí a inocente vendedora me garantiu: “Ah, o senhor terá um valor que poderá sacar sempre que quiser e não paga nada por isso”. Agradeci a caridade e, logo em seguida, lembrei que havia esquecido todos os documentos em casa. Dei tchau e disse que voltaria, para desespero geral da nação, que viu sair para escanteio a bola que estava em cima da linha do gol.

A título de informação

Na única loja onde encontrei, em local de fácil visualização, informações sobre o chamado Custo Efetivo Total (CET) dos parcelamentos, empréstimos e afins, descobri o seguinte:
- Para compras em sete ou oito vezes, com juros, a taxa é de 70,54% a.a (ao ano)
- Para o parcelamento da fatura: 352% a.a.
- Para o crédito rotativo (aquele dinheirinho que a moça disse que eu poderia sacar sem pagar nada): 487% a.a.

O que todo mundo sabe

Ninguém há de negar: os cartões são fantásticos para as empresas, porque fidelizam consumidores e, de quebra, ainda conseguem faturar em cima dos juros cobrados dos que atrasam ou “parcelam o parcelamento”. E é nessa brincadeira que muita gente adquire para si dívidas que nunca acabam. Com pouca (ou quase nenhuma) burocracia, o nicho atrai multidões.
Parece irreal, mas conheci há alguns anos um consumidor compulsivo que tinha tantos cartões de crédito que, a uma determinada altura da vida, não sabia mais quantas faturas devia. Com um cartão para praticamente cada loja em que consumia, ele tinha, por baixo, uns 20. Para tentar evitar um colapso financeiro pessoal, resolveu dizer-lhes um tchau. Sim, mas sem precisar ser um adeus. Trancou todos em uma mala e entregou as chaves a um amigo.
Olhando de fora, você pode dizer a mesma coisa que ouvi de muitos vendedores de cartão quando questionei sobre os juros cobrados serem muito altos: só paga juros quem não paga em dia e só faz dívidas quem quer. O grande lance, no entanto, é que os alvos preferenciais nesses casos são consumidores com pouca instrução, muitos dos quais acreditam cegamente que “pagamento mínimo” é um carinhoso afago. Planejamento financeiro, então, é, na melhor das hipóteses, um “ouvi falar”.
De acordo com o IBGE, um em cada cinco brasileiros é analfabeto funcional. Ou seja, 30,5 milhões de pessoas no país leem, mas não entendem. O que essas pessoas farão com um contrato? Quantas contas elas vão colocar no papel? Em quantas conversas de vendedores “espertos” elas vão acreditar?

O que muita gente não quer saber

Em uma loja, resolvi trocar uma ideia com uma senhora que estava fazendo um cartão. Perguntei por que ela estava fazendo aquilo e emendei dizendo que poderia ser uma cilada. O que ouvi: “Mas, meu filho, você quer me dizer que não é negócio poder comprar sem ter dinheiro?”. 
Aí fica difícil. não é?

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Ciclovias para quê?





As novas ciclovias da cidade de São Paulo, principalmente as implantadas na área central, dividem as opiniões e ainda não entraram de vez no cotidiano dos paulistanos. São pedestres, comerciantes, motoristas e ciclistas tentando se adaptar à novidade. Por elas se encontra de tudo: carros atravessados tentando entrar nos estacionamentos, portas de táxis abertas, invadindo a faixa exclusiva, skatistas, triciclos de entregadores e muitos pedestres. Bicicletas mesmo ainda são poucas.

Enquanto ambientalistas e cicloativistas defendem a medida, os motoristas reclamam da diminuição do espaço para circular e para estacionar, dificultando ainda mais o trânsito. Na opinião de alguns comerciantes, as ciclovias reduzem o potencial de clientes, principalmente pela falta de vagas para estacionar. E como foram instaladas junto às calçadas, dificultam o trabalho de carga e descarga e de embarque e desembarque.

De acordo com vários comerciantes , desde que a ciclovia foi implantada, há quase dois meses, o movimento caiu cerca de 50%. "A faixa inibe a vinda de novos clientes, que desistem de vir por causa da dificuldade para estacionar", afirmam.

A gestão do prefeito Fernando Haddad já implantou 16,4 quilômetros de ciclovias no Centro. A meta da prefeitura é de que, até o final de 2015, sejam 400 quilômetros de vias exclusivas para bicicletas na cidade.

Com relação às críticas de que não ouve ao comércio e à população sobre a implantação das ciclovias e de que não há um estudo de demanda ou impacto, A Prefeitura apenas cumpre as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. "É obrigação da gestão pública fomentar o desenvolvimento e o equilíbrio de todos os modais", diz Haddad.

Outro ponto polêmico se refere à quantidade, ainda pequena, de ciclistas que usam as vias exclusivas. A CET ainda não tem um levantamento. "A adesão virá com o tempo", afirma.


"O assunto merece ser melhor debatido. Não adianta nada construir ciclovias aleatoriamente para só depois verificar se elas funcionam ou não, assim como aconteceu com as faixas exclusivas para ônibus.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A indústria que o Brasil precisa.

A Indústria que o Brasil Precisa.

Denilson Forato
 
 Como impulsionadora de transformações, a política industrial brasileira não vem obtendo êxito no já relativamente longo período em que foi reintroduzida no país, ou seja, desde 2004, quando do anúncio da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE). Posteriormente vieram a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) de 2008 e o Plano Brasil Maior (PBM) de 2011. As políticas adotadas tiveram relevância em melhoras parciais ou setoriais, no incentivo aos investimentos em P&D&I e na desoneração (ainda incompleta) de investimentos, de folha de salários e de exportações, mas como instrumentos impulsionadores do setor como um todo, até o momento não.

Pelo contrário, após uma fase de crescimento entre 2005 e 2008, a indústria brasileira regrediu: sua produção hoje é 5,1% inferior à do período imediatamente anterior à crise mundial, ou seja, agosto de 2008, e sua representatividade no PIB retrocedeu para níveis muito baixos (cerca de 13% do PIB, considerando a indústria de transformação). A despeito de decrecente peso no PIB, a menor evolução do PIB industrial foi fator determinante para o declínio do investimento e para a queda do crescimento econômico brasileiro

No âmbito mundial, a participação brasileira recuou, sendo ultrapassada pelo avanço de outras economias emergentes, tanto no que diz respeito à geração de valor agregado da indústria, quanto na exportação de manufaturados. 

Em 1980, o Brasil respondia por 2,7% da produção industrial mundial, ocupando a 7º colocação no ranking e liderando os países emergentes. Está agora no 11º lugar com apenas 1,6% do valor agregado global com clara tendência de declínio. Em 2008, ocupava a 10ª posição e detinha 1,8% da produção mundial. 
 



 




Em produtos manufaturados, segundo os últimos dados da OMC para 2012, o Brasil é apenas o 29º maior exportador, com baixíssima expressão (0,7%) nas exportações mundiais. A propósito, há duas décadas e meia a participação brasileira nas exportações do mundo oscila no estreito limite de 0,6% a 0,8% do total.

No plano interno, o retrocesso acima referido, de 5% para a produção média da indústria desde a crise global, esconde casos de gravidade extrema. Assim, no segmento de produtos têxteis, vestuário e calçados e em amplos complexos industriais – a exemplo do metal-mecânico e eletroeletrônico – a perda de produção chegou a quase 30%. O mais baixo índice médio decorreu da significativa expansão de setores com elevado peso na estrutura industrial, como alimentos, bebidas, produtos derivados do petróleo e produtos de limpeza, cosméticos e higiene pessoal.
 



 




Tais resultados mostram uma indústria que não queremos para o Brasil: seu desempenho é frágil e sua expressão mundial é cada vez menor. Eles refletem acompetitividade cadente do setor, que já se estende por um longo período e reúne tanto fatores exteriores à dinâmica industrial, como os propriamente relativos à indústria. 

Custos Sistêmicos e Reformas. Os elevados custos sistêmicos (como tributação alta e complexa, infraestrutura inadequada e elevado custo de capital de terceiros), os crescentes custos de produção, incluindo o custo do trabalho, e amoeda por muito tempo excessivamente valorizada respondem pelos problemas do primeiro tipo. 

Sobre o custo do trabalho, além dos aumentos reais ano após ano, distorções graves estão restringindo a flexibilidade laboral, concorrendo para dilatar ainda mais os gastos das empresas sem contrapartida de melhor produtividade. Como decorrência, o Brasil tende rapidamente a ser um país de alto custo e de baixa flexibilidade do trabalho.

Não será possível retirar a indústria da grave crise em que se encontra sem a solução dos problemas relacionados à tributação, infraestrutura, custo do trabalho, juros e câmbio, o que exigirá reformas e medidas corajosas. Em resumo, serão indispensáveis como pré-requisitos ao relançamento industrial:

  • Reforma e simplificação da estrutura tributária;
     
  • Investimentos urgentes e relevantes na infraestrutura; 
     
  • Reforma da legislação trabalhista para atualizar e simplificar a regulação e estancar os constantes aumentos de custos;
     
  • Ajustes na política cambial e de juros para atender às necessidades de competitividade e de financiamento dos setores produtivos.
Baixa Inovação e Produtividade. Dentre os fatores determinantes da crise industrial relativos propriamente à indústria, destacam-se a baixa capacidade inovadora e o retrocesso da produtividade. Um recente estudo do IEDI mostrou que a produtividade do trabalho na indústria, que crescera 3,2% ao ano entre 1995/2002, registrou variação média negativa de 1,7% no período 2003/2009. Nesse segundo período, economias como a da China e dos EUA acusaram evolução de 4,5% ao ano e 3,8%, respectivamente. 

O recuo da produtividade do setor pode estar associado também a atrasos de atualização e consequente envelhecimento do parque fabril brasileiro em alguns segmentos como, possivelmente, os de micro e pequenas empresas, uma decorrência do menor ritmo de evolução dos investimentos nos últimos anos.  

O Ambiente Macroeconômico Para Uma Eficaz Política Industrial. O equacionamento dos temas macroeconômicos e do custo Brasil irá reduzir custos de produção, impulsionará a produtividade da economia e desenvolverá um ambiente de negócios favorecedor da execução de uma política industrial e de inovação capaz de contribuir decisivamente para transformar a indústria em um setor competitivo e de alta produtividade. Como convém observar, para esse objetivo a política industrial brasileira decididamente ainda não colaborou. 

O Desafio da Indústria Brasileira. Para consolidar e dar seguimento às conquistas sociais, o Brasil deverá acelerar sua produtividade e elevar seu crescimento econômico. Sua renda per capita, atualmente de cerca de US$ 12 mil, é apenas a 95ª entre 180 países. Uma evolução como 4,5% ao ano do PIB é requerida para duplicá-la em duas décadas, o que permitirá ao país alcançar a 79ª posição na escala global. Terá que ser urgente a definição das ações necessárias para potencializar o crescimento brasileiro, pois caso venhamos a repetir o desempenho das duas últimas décadas (aumento médio anual do PIB de 3,2%), veremos a posição brasileira regredir para a 104ª posição

O objetivo de crescer mais e de forma mais sustentada terá maior viabilidade se o Brasil puder contar com um setor industrial com dinamismo equivalente ou superior à média da economia. Esse é o desafio da indústria brasileira

Orientação Excessivamente Defensiva e Protecionista. Na atualidade, a orientação excessivamente defensiva e protecionista é o que mais caracteriza a política voltada ao desenvolvimento da indústria e o que mais a distancia dos seus objetivos principais. Convém destacar que a crise mundial levou ao estreitamento dos mercados consumidores de produtos industriais ao redor do mundo, o que intensificou a concorrência pelos poucos mercados ainda dinâmicos, como é o caso do mercado brasileiro. Daí a competição acirrada que se estabeleceu por posições no mercado interno entre o produto de fabricação doméstica e o importado, este contando com larga vantagem em função da marcha adversa da nossa competitividade.  

A maior concorrência externa por mercados e a crise interna da indústria brasileira que se estenderia de 2011 até os dias atuais, levaram a política industrial brasileira a priorizar ações de compensação tributária e/ou de proteção para os setores mais atingidos, tendo em vista evitar resultados muito adversos para a produção e o emprego. Em parte, as demandas empresariais por proteção procuraram neutralizar práticas consideradas desleais de comércio, as quais usualmente acompanham processos intensos de penetração em mercados externos. Mal preparado em termos de defesa comercial, o Brasil foi levado a intensificar esforços nesta área, o que não deve ser confundido com protecionismo. 

Mesmo sendo levado em conta este ponto, o fato é que talvez em escala muito maior do que se pretendia inicialmente, a política industrial brasileira nos últimos anos lançaria mão e aprofundaria a proteção do mercado interno. Em contrapartida, o outro lado que se fazia ainda mais relevante como condição para a superação da crise industrial, qual seja o do resgate da produtividade e da capacidade de competir com o produto estrangeiro, teve pouco significado. 

A Reorientação Em Prol da Inovação e da Produtividade e a Nova Política de Comércio Exterior. A reorientação que se impõe na política industrial brasileira consiste, antes de tudo, em definir de forma clara seus novos focos: o direcionamento defensivo e de proteção do mercado interno deve ceder lugar para a inovação e a produtividade, o que pressupõe maior aproximação com os grandes centros do comércio mundial

Uma importante causa do limitado alcance da política industrial e de inovação é a falta de articulação destas políticas com a de comércio exterior. A rigor, esta última não existe, necessitando ser rapidamente reconstituída. Precisamente através de uma maior vinculação de suas economias com a economia mundial - por meio de exportações e pela internacionalização de suas empresas - os países emergentes de maior sucesso procuraram perpetuar nas suas empresas a capacidade de concorrência obtida através de vantagens adquiridas pelo progresso técnico e inovação, sabedores de que estratégias apoiadas em incentivos e proteção permanentes não desenvolvem estruturas empresariais capazes de gerar ganhos de produtividade e de concorrer em mercados abertos. 

A Nova Política de Comércio Exterior. Mesmo que se tenha em vista as dificuldades hoje presentes para que o comércio mundial recupere seu dinamismo pré-crise, o Brasil precisa seguir esse mesmo caminho. Significa isto dizer que deverá perseguir no bojo de uma nova política de comércio exterior, os seguintes rumos e objetivos: 

a)    Potencializar a internacionalização das empresas brasileiras e aproximá-las das cadeias globais de produção. Rever a legislação sobre a taxação dos resultados das empresas no exterior será uma providência indispensável para esse objetivo; 
 
b)    Ampliar a integração da empresa internacional presente no Brasil com a política industrial, o que beneficiará uma maior participação brasileira em cadeias globais de produção;
 
c)    Reforma tarifária que remova distorções da estrutura de tarifas de importação, a exemplo da taxação excessiva dos bens intermediários, e reduza a média tarifária em uma perspectiva de longo prazo. A abertura é necessária, porém não deve ser abrupta. Seu objetivo é baratear o custo da produção, ampliar a concorrência doméstica e aumentar as exportações. 
 
d)    Ativa atuação na formulação de acordos comerciais envolvendo os principais blocos comerciais do mundo - EUA, Europa e Ásia - para facilitar importações e abrir mercados de exportação. 
 
e)    Ampliação dos horizontes de integração produtiva e de comércio exterior com a América do Sul, em geral, e não apenas com o Mercosul. 

Condições para o Êxito da Política de Comércio Exterior. O êxito de uma decidida e responsável inserção externa da economia em modernizar e promover o desenvolvimento da indústria dependerá, em primeiro lugar, da rapidez e profundidade com que forem realizados os investimentos em infraestrutura e promovidas reformas como a tributária e trabalhista, tendo em vista a indispensável redução dos custos sistêmicos.

Em segundo lugar, muito embora não deva ser considerado o instrumento central de promoção da competitividade industrial, não se deve descuidar do câmbio. Valorizações da moeda em magnitudes tão acentuadas e prolongadas como as que se apresentaram nas últimas décadas não podem ser repetidas, pois retiram qualquer possibilidade de reação dos setores domésticos através de aumentos de produtividade e reduções de custos. 

O câmbio não pode ser instrumento de controle inflacionário e deve garantir um nível mínimo de competitividade da economia e de atratividade dos investimentos voltados à exportação.   

Também deve ser parte relevante dessa política a remoção de desincentivos tributários à exportação. Nessa questão duas ações não podem ficar ausentes: a) Aperfeiçoamento da devolução ao exportador dos impostos e contribuições embutidos nas exportações e que não são reembolsáveis (“Reintegra”); b) Instituição de mecanismo ágil e sem custos para que o exportador receba de imediato os créditos tributários empoçados. 

Outro ponto importante seria assegurar o crédito para a exportação através da anunciada no passado, mas ainda não concretizada, criação do Eximbank brasileiro. O BNDES vem cumprindo parcialmente esse papel, mas a agência específica para esse fim poderia aportar novos instrumentos e recursos para o setor.

Concorrência e Inovação. Tendo êxito, por si só a política de reinserção externa será capaz de contribuir muito positivamente para dar eficácia ao sistema brasileiro de financiamento e incentivos às atividades de P&D&I. Este sistema nos parece ter evoluído e atinge na atualidade nível bem satisfatório, mas os resultados ainda não são favoráveis. A maior concorrência transformará nossas empresas em corporações inovadoras mais do que presentemente são. Em consequência, usufruirão de maiores índices de produtividade. Assim, para mudar de fato o seu foco, uma nova política industrial e de inovação deveria se fazer acompanhar de uma fundamental e ampla renovação da política de comércio exterior

Isto não exclui a intensificação de ações da política de inovação para ampliar investimentos em centros de pesquisa e desenvolvimento em setores estratégicos, seguindo modelos adotados no passado com grande êxito, como, por exemplo, nas indústrias de petróleo e aviação.

Revisão e Transparência dos Programas. Outra indispensável ação da política industrial a ser empreendida em sincronia com a resolução dos custos sistêmicos, será a revisão em profundidade de todos os programas que, de forma excessiva, atualmente demandam incentivo fiscal, proteção e requisito de “conteúdo nacional”. Isto eleva custos e reduz a produtividade do conjunto da economia. Nos segmentos submetidos às regras de conteúdo nacional, envolvendo diversos e relevantes setores industriais, se avolumam reclamações de ambos os lados: os possíveis beneficiários se queixam porque os requisitos de produção local não estariam sendo realmente respeitados, enquanto os agentes aos quais cabe seguir os limites de produção nacional fixados alegam a impossibilidade de atendimento das exigências. Ter maior flexibilidade poderia colaborar para se chegar a um denominador comum. Não é demais enfatizar que as políticas de proteção e de conteúdo local somente são efetivas enquanto constituírem casos especiais e não a regra da política industrial.

Uma norma geral a ser adotada em uma reedição da política industrial consiste nafixação de sistemática de transparência de informações e avaliação de políticas, naqueles casos em que incentivos e mecanismos de proteção estão presentes. Tais políticas devem: a) estabelecer prazos para seu início e término; b) ter seus custos estimados e devidamente aprovados nos orçamentos públicos; e c) ser objeto de periódicas avaliações de resultados. Essas recomendações são atinentes aos incentivos diretos e indiretos, incluindo benefícios implícitos no financiamento público. A rigor, todos os programas com incentivos públicos, e não apenas os atinentes à política industrial, deveriam seguir idêntica diretriz. A avaliação de resultados deverá definir situações em que a execução de políticas acarreta prejuízos ou ônus para o conjunto da sociedade e para segmentos empresariais superiores aos benefícios, casos em que as políticas não devem ser executadas.  

Políticas Horizontais e Setoriais. Mesmo havendo estrita observância das recomendações acima, as políticas setoriais que requerem elevados estímulos tributários e proteção, sempre que possível devem ser evitadas em prol de políticas mais gerais. A política industrial deve estar largamente apoiada em políticas horizontais

Sobre políticas setoriais, alguns critérios poderiam servir de guia em sua execução, a saber: 

a)    Prioridades de políticas e de desoneração dirigidas às bases das cadeias produtivas e não aos bens finais de consumo. A meta é reduzir os custos dos insumos básicos e bens de capital produzidos no país para níveis internacionais, beneficiando não só os próprios segmentos de insumos e bens de capital, como também os setores que os utilizam. Isto poderia viabilizar menores níveis de tarifas de importação.
 
b)    Apoiar setores da indústria e serviços associados com elevado impacto econômico-social e para a modernização industrial. Exemplo, além de casos contemplados pela política industrial - petróleo e defesa -, o complexo de saúde, incluído aí a indústria farmacêutica. Este é um setor em que a política industrial pode prescindir da proteção e se nutrir de instrumentos como incentivos à inovação, poder de compra do setor público e aperfeiçoamentos regulatórios para colaborar na formação de um segmento competitivo e tecnologicamente avançado.
 
c)    Reforçar as ações com grande capacidade de complementação ou integração com outras políticas e com setores onde já estão constituídos padrões de excelência e de produtividade. Uma referência para as iniciativas nessa área deve ser o desenvolvimento de tecnologias para adicionar valor às matérias-primas locais de origem mineral, energética ou agropecuária. Nesse sentido, uma política de recuperação da capacidade de produção e de investimento do setor de etanol constituiria relevante elo entre as políticas industrial e de sustentabilidade. 

Sustentabilidade. Quanto à sustentabilidade, esta deveria ser uma referência e um dos vetores do desenvolvimento brasileiro. O Brasil tem amplas condições de ser um dos países líderes no tema, mas a política brasileira voltada à indústria, exceto de forma marginal, o ignora. A política industrial e a política econômica de um ponto de vista mais geral deveriam indiscutivelmente sinalizar a prioridade à economia sustentável, em termos de tributação e incentivos à economia verde, incentivos à P&D&I, promoção de energias alternativas, políticas de mobilidade urbana, eficiência energética e uso da água.

Produção Industrial até 1º semestre de 2014.

Segundo dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial apontou variação positiva de 0,7% frente ao mês imediatamente anterior em julho de 2014. Frente a igual mês do ano anterior, o setor industrial mostrou queda na produção (–3,6%), quinta taxa negativa consecutiva nesse tipo de comparação. O índice acumulado nos últimos sete meses do ano registrou queda de 2,8%. Nos últimos 12 meses, a taxa recuou 1,2%, mantendo a trajetória descendente.
Entre as categorias de uso na comparação com o mês imediatamente anterior, os bens de consumo duráveis assinalaram a alta mais acentuada (20,3%), seguido pelo segmento de bens de capital (16,7%), bens de consumo semi e não–duráveis, com alta de 0,7% e bens intermediários com queda de –0,3%.
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, bens de consumo duráveis (–13,7%) assinalou, em julho de 2014, a queda mais acentuada entre as grandes categorias econômicas. Os segmentos de bens de capital (–6,4%) e de bens intermediários (–3,6%) registraram os demais resultados negativos nesse mês, enquanto o setor produtor de bens de consumo semi e não–duráveis, com expansão de 0,6%, apontou a única taxa positiva.
Entre as grandes categorias econômicas, o perfil dos resultados para o índice acumulado nos sete primeiros meses de 2014 mostrou menor dinamismo para bens de consumo duráveis (–9,0%) e bens de capital (–7,8%), pressionadas especialmente pela redução na fabricação de automóveis (–17,6%), na primeira, e de bens de capital para equipamentos de transporte (–16,0%), na segunda. O segmento de bens intermediários (–2,5%) também assinalou resultado negativo no índice acumulado no ano, mas com queda ligeiramente menos intensa do que a observada na média nacional (–2,8%). Por outro lado, o setor produtor de bens de consumo semi e não–duráveis, com variação positiva de 0,4%, apontou a única taxa positiva.
Setorialmente, o crescimento de 0,7% da atividade industrial na passagem de junho para julho teve predomínio de índices positivos, alcançando três das quatro grandes categorias econômicas e 20 dos 24 ramos pesquisados. Entre as atividades, as principais influências positivas foram registradas por equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (44,1%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (8,5%), com o primeiro apontando a expansão mais intensa desde o início da série histórica e interrompendo quatro meses consecutivos de taxas negativas que acumularam redução (–38,1%); e o segundo eliminando parte da perda de 18,1% acumulada nos meses de maio e junho. Outras contribuições positivas importantes sobre o total da indústria vieram dos ramos de outros equipamentos de transporte (31,3%), de máquinas e equipamentos (7,0%), de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (13,1%), de outros produtos químicos (2,4%), de confecção de artigos de vestuário e acessórios (8,6%), de produtos farmacêuticos e farmoquímicos (5,0%), de produtos têxteis (5,9%), de produtos de minerais não–metálicos (2,5%) e de indústrias extrativas (1,1%). Com exceção do último setor que mostrou taxa positiva pelo quinto mês seguido, as demais atividades apontaram resultados negativos em junho.
Entre os quatro ramos que reduziram a produção nesse mês, os desempenhos de maior importância para a média global foram registrados por produtos alimentícios (–6,3%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (–2,6%). O primeiro setor interrompeu três meses de crescimento na produção, período em que acumulou expansão de 6,9%, e o segundo eliminou parte do avanço de 6,5% alcançado no mês anterior.




Na comparação com igual mês do ano anterior, o setor industrial mostrou queda em julho de 2014 (–3,6%). Três das quatro grandes categorias econômicas e 16 dos 26 ramos apontaram redução na produção. Entre as atividades, a de veículos automotores, reboques e carrocerias, que recuou 22,8%, exerceu a maior influência negativa na formação da média da indústria. Outras contribuições negativas relevantes vieram da redução na produção de metalurgia (–9,0%), de produtos de metal (–13,2%), de máquinas e equipamentos (–7,9%), de produtos de borracha e de material plástico (–10,8%), de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–8,6%) e de produtos alimentícios (–1,2%). Entre as dez atividades que aumentaram a produção, os principais impactos foram observados em indústrias extrativas (5,6%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (2,2%), produtos farmacêuticos e farmoquímicos (8,9%), impressão e reprodução de gravações (20,5%) e outros equipamentos de transporte (9,8%).
No índice acumulado para os sete meses de 2014, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial mostrou queda de 2,8%, com predomínio de taxas negativas, alcançando três das quatro grandes categorias econômicas, 18 das 26 atividades, 55 dos 79 grupos e 63,1% dos 805 produtos investigados. O principal impacto negativo foi observado no ramo de veículos automotores, reboques e carrocerias (–17,7%). Outras contribuições negativas relevantes sobre o total nacional vieram dos setores de produtos de metal (–10,8%), de metalurgia (–5,6%), de máquinas e equipamentos (–5,3%), de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–7,9%) e de outros produtos químicos (–3,7%). Por outro lado, entre as oito atividades que ampliaram a produção, as principais influências foram observadas em indústrias extrativas (4,4%), produtos alimentícios (1,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (7,9%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,7%) e produtos farmacêuticos e farmoquímicos (5,8%).

Na comparação com igual mês do ano anterior, o setor industrial mostrou queda em julho de 2014 (–3,6%). Três das quatro grandes categorias econômicas e 16 dos 26 ramos apontaram redução na produção. Entre as atividades, a de veículos automotores, reboques e carrocerias, que recuou 22,8%, exerceu a maior influência negativa na formação da média da indústria. Outras contribuições negativas relevantes vieram da redução na produção de metalurgia (–9,0%), de produtos de metal (–13,2%), de máquinas e equipamentos (–7,9%), de produtos de borracha e de material plástico (–10,8%), de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–8,6%) e de produtos alimentícios (–1,2%). Entre as dez atividades que aumentaram a produção, os principais impactos foram observados em indústrias extrativas (5,6%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (2,2%), produtos farmacêuticos e farmoquímicos (8,9%), impressão e reprodução de gravações (20,5%) e outros equipamentos de transporte (9,8%).
No índice acumulado para os sete meses de 2014, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial mostrou queda de 2,8%, com predomínio de taxas negativas, alcançando três das quatro grandes categorias econômicas, 18 das 26 atividades, 55 dos 79 grupos e 63,1% dos 805 produtos investigados. O principal impacto negativo foi observado no ramo de veículos automotores, reboques e carrocerias (–17,7%). Outras contribuições negativas relevantes sobre o total nacional vieram dos setores de produtos de metal (–10,8%), de metalurgia (–5,6%), de máquinas e equipamentos (–5,3%), de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–7,9%) e de outros produtos químicos (–3,7%). Por outro lado, entre as oito atividades que ampliaram a produção, as principais influências foram observadas em indústrias extrativas (4,4%), produtos alimentícios (1,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (7,9%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,7%) e produtos farmacêuticos e farmoquímicos (5,8%).