A limpeza dos dutos de ar-condicionado
de prédios públicos e particulares deve seguir normas específicas para manter
a qualidade do ar respirado pelas pessoas que frequentam esses ambientes. A
correta manutenção dos sistemas de climatização previne, entre outras, a
doença do legionário, uma pneumonia atípica causada por uma bactéria que pode
ser encontrada em sistemas de ar-condicionado central e torres de
refrigeração de água. Saiba mais sobre essa doença e as medidas de higiene
que devem ser adotadas na limpeza dos aparelhos para evitá-la.
Ministério da Saúde e Anvisa têm normas
rígidas
O primeiro conjunto de regras voltado
para garantir a qualidade do ar em ambientes climatizados foi a
Portaria 3.523/98, do Ministério da Saúde, que estabelece uma rotina de
procedimentos de limpeza em sistemas de refrigeração de grande porte. A
orientação é para que empresas e condomínios contratem técnicos ou um
estabelecimento especializado para realizar limpezas periódicas.
Em outubro de 2000, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) publicou a Resolução 176/00, definindo padrões referenciais de
qualidade do ar interior em ambientes climatizados de uso público e coletivo
e os procedimentos a serem utilizados pelas vigilâncias sanitárias no que
compete à fiscalização da qualidade do ar.
A análise consiste na coleta de amostras do ar absorvidas por aparelho que
contenha filtros com meio de cultura, para identificar os microrganismos
existentes. Os filtros são então colocados em incubadoras e, se o laudo
determinar contagem de microrganismos acima de 750 unidades formadoras de
colônia (UFC) – padrão estipulado pela Organização Mundial de Saúde – por
metro cúbico de ar, o ambiente é considerado impróprio para a saúde.
Além da Anvisa, contribuíram para elaborar a Resolução 176, entre outros,
técnicos do Instituto Noel Nutels, Instituto de Química da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Ministério do Meio Ambiente, Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo, Organização Pan-Americana de Saúde,
Fundação Oswaldo Cruz, Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e
Medicina do Trabalho (Fundacentro/MTB) e Instituto Nacional de Metrologia
Normalização e Qualidade Industrial.
Em janeiro de 2003, a Anvisa revisou e atualizou o documento – sob a
denominação de Resolução 9/03 –, contando com a ajuda de técnicos das mesmas
instituições.
A norma estabelece que proprietários, locatários e administradores de imóveis
climatizados por sistemas acima de 60.000 BTU/H (unidade térmica britânica
por hora, medida utilizada para definir a capacidade térmica de um
equipamento, que aumenta em ordem diretamente proporcional ao tamanho do
ambiente e ao número de pessoas que estão presentes; neste caso equivale à
refrigeração de um ambiente de mais de 100m²) são responsáveis pela qualidade
do ar respirado por seus ocupantes. Se a fiscalização feita pelos técnicos da
vigilância sanitária constatar que os limites de tolerância da poluição em
ambientes refrigerados foram ultrapassados, os responsáveis poderão ser
penalizados com multas que variam de R$ 2 mil a R$ 200 mil.
Método mais moderno recorre a
pequenos robôs para entrar nos dutos
De acordo com a ABRAVA e o Departamento Nacional de Qualidade do AR Interior, a tarefa de manter o ar
interno saudável deve ficar a cargo de empresa especializada, capaz de
cumprir as exigências da legislação. O trabalho é iniciado com a análise
microbiológica do sistema por pontos isolados para, após o laudo, proceder-se
à higienização dos dutos e da casa de máquinas.
O método de limpeza mais eficaz, segundo a Anatai, emprega robôs operados por controle
remoto, que usam escovas rotativas impulsionadas por ar comprimido
para varrer os dutos. Outros acessórios acoplados ao aparelho efetuam a
sanitização, pulverizando bactericidas e fungicidas.
A equipe necessária é formada por um engenheiro responsável, um técnico em
química, um técnico em monitoração e dois operadores. Cabe ao responsável
emitir o laudo, que passa a integrar o plano de manutenção, operação e
controle, implantado por empresa especializada. A legislação dispõe
ainda que o trabalho deve ser feito com o menor transtorno possível para os
ocupantes do imóvel.
Legislação fixa prazo para cada
manutenção
Observe a periodicidade definida pela
Anvisa para a limpeza e manutenção dos componentes do sistema de
ar-condicionado:
Tomada de ar externo – limpeza mensal ou, se descartável, troca
após, no máximo, três meses.
Filtros – limpeza mensal ou, se descartável, troca após, no máximo, três
meses.
Bandeja de condensado – limpeza mensal.
Serpentinas de aquecimento e de resfriamento – limpeza trimestral.
Umidificador – limpeza trimestral.
Ventilador – limpeza semestral.
Casa de máquinas – limpeza mensal.
Bactéria até então desconhecida matou
34 nos EUA
A falta de limpeza nos filtros e dutos de ar refrigerado propicia o
desenvolvimento de micro-organismos – fungos, bactérias e leveduras – que
podem levar os ocupantes de ambientes climatizados a contraírem doenças
respiratórias, infecciosas ou alérgicas. O maior perigo está na presença da
Legionella pneumophyla – bactéria que habita dutos de ar-condicionado, torres
de refrigeração de água e bebedouros e que causa a legionelose, podendo se
manifestar de duas formas: doença do legionário – um tipo grave de pneumonia
– e a febre de Pontiac.
O contágio da doença do legionário ocorre pela inalação de gotas de água
contendo a Legionella, que se aloja nos alvéolos pulmonares. O período de
incubação é de dois a dez dias, surgindo em seguida os sintomas de febre,
tremores, tosse seca ou purulenta e doresde cabeça. A doença é curável, desde
que diagnosticada a tempo, e o tratamento é feito com antibióticos. Pessoas
com sistema imunológico comprometido, doenças respiratórias ou problemas
cardíacos – especialmente idosos – são as mais propensas ao contágio. Para a
eficácia do tratamento, é necessário diagnóstico diferencial com outros tipos
de pneumonia.
A Legionella pode estar presente em casos isolados ou desencadear
epidemias de pneumonia em empresas – casos de contato com a mesma fonte de
organismos e não de transmissão entre pessoas. A bactéria foi descoberta em
1976, quando mais de 200 idosos que participavam de uma convenção de
legionários (veteranos de guerra) em um hotel na Filadélfia,
Estados Unidos, infectaram-se e desenvolveram uma forma inicialmente não
solucionada de pneumonia. Todos foram hospitalizados em estado grave e 34
morreram. A mesma bactéria foi o motivo da morte, em 1998, do ex-ministro das
Comunicações Sérgio Motta.
A febre de Pontiac é uma infecção tipo gripe causada pela inalação de água
contaminada com muitos tipos de bactérias, dentre elas espécies de Legionella.
Os doentes apresentam febre, tremores, mal-estar e dores de cabeça e
musculares, mas sem complicações. O período de incubação varia de 12 a 36
horas e, por ser muito curto, não permite a infecção e multiplicação
bacteriana.
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