Os casos de empresas em dificuldades financeiras aumentaram 50% agora em 2013 em comparação com o ano passado,e a tendência é crescer mais. Durante este período, foi apurado um número maior de companhias que passou a ser acompanhada pela área de recuperação de crédito, que é acionada quando há atrasos nos pagamentos de empréstimos aos bancos.
Conhecidas como “empresas zumbis”, elas não geram caixa e nem lucro suficientes para pagar a dívida nos seus balanços e, com isso, seus negócios tornam-se foco de novos ciclos de crises.
Assim como ocorreu no segundo semestre de 2008, durante a primeira eclosão da crise financeira internacional, o Brasil começa a sentir os efeitos de um cenário macroeconômico negativo envolvendo recessão na zona do Euro, insolvência de alguns países e crise de confiança generalizada. Esses efeitos se manifestam no mercado financeiro pela maior dificuldade para bancos brasileiros captarem recursos no exterior. Onde a captação ocorre, ela tipicamente se dá em volumes menores e a custos maiores que os anteriores.
Já no caso dos bancos internacionais operando no Brasil, o problema muitas vezes acontece por decisões da matriz de repatriar recursos para cobrir necessidades de capital nos países de origem dos bancos. O levantamento detectou ainda que o prazo de transferência dessas empresas para a área de recuperação de crédito varia, entre os entrevistados, de dez a 30 dias após o vencimento.
Para as empresas zumbis, com raras exceções, a crise materializa-se na dificuldade de renovar limites de crédito existentes e no aumento do custo financeiro. “As empresas em situação patrimonial menos favorável podem ficar de fora do mercado financeiro tradicional, tendo que recorrer às operações de desconto de duplicatas a custos insustentáveis”.
No caso brasileiro, as “empresas zumbis” são muitas vezes aquelas que passaram por uma recuperação judicial há algum tempo, somente postergando o vencimento de suas dívidas, sem implementar ações efetivas de reestruturação. “Em diversos casos, elas perderam uma grande oportunidade para tomar ações efetivas, como o equacionamento do montante da dívida, a capacidade de geração de caixa da empresa ou a realização de mudanças na gestão”.
“Muitas vezes, as companhias que passam por recuperação judicial no Brasil não endereçam as reais causas de seus problemas. Os credores, pressionados a resolverem seus problemas de crédito rapidamente e desejando evitar a qualquer custo um prolongado processo de falência, acabam aprovando planos que não são sustentáveis no longo prazo”.
Vida vegetativa
Assim como os zumbis das histórias estão mortos, mas ainda andam, os equivalentes corporativos das empresas ficam vagando em uma zona logo acima da insolvência, porém ainda distantes de uma verdadeira viabilidade. Uma “empresa zumbi” tipicamente está na “Unidade de Terapia Intensiva”, necessitando de ajuda financeira contínua de credores e investidores para continuar suas operações. Geralmente, elas não demonstram necessariamente prejuízos, e têm uma lucratividade próxima do zero ou ligeiramente positiva. Entretanto, embora gerem receitas suficientes para pagar suas despesas operacionais, elas não conseguem pagar suas dívidas. Isto claramente traz preocupações para os credores.
Alternativas para as empresas
O futuro para muitas destas “empresas zumbis” pode ser sombrio. Em muitos casos, a situação é grave e os gestores das empresas estão rezando para um crescimento forte na demanda, sem o qual eles não conseguirão ver a luz no fim do túnel. Isso é mais verdadeiro ainda para as empresas que não conseguirem reconhecer seus problemas. É necessária uma reestruturação profunda da empresa e de seu modelo de negócios.
“Sem um diagnóstico preciso, o futuro dessas empresas fica seriamente comprometido. Conforme o refinanciamento fica cada vez mais difícil de ser obtido, empresas que dependem do influxo constante de crédito poderão se encontrar diante de um cenário de recuperação judicial ou, pelo menos, uma reestruturação radical de suas operações”.
Em casos menos dramáticos, empresas incapazes de gerar recursos suficientes para repagar suas dívidas e manter níveis competitivos de investimento estarão em condições menos favoráveis para aproveitar as oportunidades que aparecerão durante o ciclo de recuperação econômica. Estes negócios estarão bastante vulneráveis a aquisições ou à perda de terreno para concorrentes. “Em época de restrição de crédito e crise global, fica mais relevante a capacidade de a empresa claramente diagnosticar sua situação, instaurar uma cultura de caixa e implantar ações de impacto imediato”.
Preocupação internacional
As instituições financeiras estão crescentemente preocupadas com o aumento do número das chamadas “empresas zumbis”. Essas empresas vivem uma existência “da mão para a boca,” gerando caixa que pode até ser suficiente para pagar seus fornecedores e fazer girar o negócio. Entretanto, sua posição patrimonial precária e baixos níveis de sobra de caixa não permitem que elas amortizem seus empréstimos ou façam investimentos necessários para o empreendimento. Sem uma reestruturação eficaz, a pesquisa sugere que esses zumbis poderiam tornar-se alvo de uma nova onda de recuperações judiciais no médio e longo prazo.
Sob ótica do credor, empresas não conseguirão refinanciar suas dívidas
Sob a perspectiva dos credores, o principal risco é que as “empresas zumbis” ficarão presas em um ciclo de dependência. Credores entrevistados demonstraram preocupação com a insuficiência de lucratividade e de capital de giro nessas empresas. A situação da economia indica, para a maioria dos setores, há uma tendência de aumento de demanda significativa. Apesar disso, não há indicações de que a situação dessas empresas vá melhorar de modo substancial e, em função disso, os credores têm pouco otimismo de que as empresas zumbis consigam refinanciar suas dívidas no futuro próximo.
Essa situação pode piorar caso o cenário macroeconômico envolvendo recessão internacional e significativa restrição de crédito se alongue. Isto tornaria ainda mais difícil para as empresas que já apresentam desempenho marginal retornarem à real viabilidade. A pesquisa internacional apontou também que os credores continuam demonstrando preferência por soluções negociadas, que não envolvam os tribunais. Entretanto, têm a expectativa que o refinanciamento se tornará mais difícil, em particular para empresas menores.
Ao mesmo tempo, o prazo que seus clientes têm ficado sob os cuidados das áreas especializadas em recuperação de crédito aumentou. Dois anos atrás, o tempo médio de duração que um caso ficava com a área de recuperação de crédito era de seis a 18 meses. Hoje, de 12 a 24 meses é a regra. Em outras palavras, está ficando mais desafiador e mais demorado resolver os problemas com as empresas zumbis.
Com o refinanciamento e outras alternativas negociadas ficando mais difíceis de se conseguir, os credores internacionais esperam um aumento nos casos de reestruturações formais por meio do uso das recuperações judiciais e falências. Isto é particularmente verdadeiro nos casos onde a geração de caixa da empresa é insuficiente e a administração da empresa é inadequada. Entre os maiores fatores de risco mencionados por eles e que afetam as empresas estão o aumento das taxas de juros, a crise econômica global e o capital de giro insuficiente.