Na verdade existem duas recessões: a primeira é cíclica, aquela que
inevitavelmente chega e inevitavelmente vai embora. Foi provado que uma
intervenção adequada pode encurtá-la, mas também há indícios de que uma
resposta exagerada pode resultar em desperdício ou até agravar a
situação. A outra recessão, porém, a que provoca a perda de todos os
"bons trabalhos de fábrica" e desemprego sistemático – essa eu temo que
tenha vindo para ficar.
A internet espremeu as ineficiências de vários sistemas, e a habilidade de coordenar atividades e digitalizar dados se combinam para eliminar um vasto número de cargos que a era industrial criou. Por que acreditamos que irão retornar aqueles empregos onde somos muito bem pagos para fazer um trabalho que pode ser sistematizado?
O que acontece hoje é uma corrida ao fundo do poço, onde comunidades
suspendem regulamentações ambientais e trabalhistas no esforço de se
tornarem os fornecedores mais baratos no mundo. O problema em competir
nessa corrida ao fundo do poço é que eventualmente você pode ganhar.
As fábricas foram o centro da era industrial. Prédios onde os
trabalhadores se juntavam para construir carros, utensílios, fazer
apólices de seguros e transplantes de órgãos - essas são atividades
centradas no trabalho, onde ineficiências locais são superadas pelos
lucros da produção em massa. Se o trabalho local custa mais ao
empresário, ele tem que pagar. Afinal, que escolha ele tem?
Imagem: Shutterstock |
Não mais. Se pode ser sistematizado, ele será. Se o intermediário pode encontrar uma fonte mais barata, ele irá. Se o consumidor não-afiliado pode poupar um centavo clicando aqui ou ali, isso irá acontecer. A ineficiência causada pela geografia era o que permitia a trabalhadores locais receberem um salário melhor, e era a ineficiência de uma comunicação imperfeita que permitia às companhias cobrarem preços maiores.
A era industrial, que começou com a revolução industrial, está
deixando o palco. Ela não é mais a força motriz da economia e é absurdo
pensar que altos salários por um trabalho facilmente substituível vão
retornar. Isso representa uma grande descontinuidade, uma decepção forte
para pessoas trabalhadoras que procuram estabilidade, mas provavelmente
não a conseguirão. É uma recessão, a recessão de cem anos de
crescimento do complexo industrial.
Eu não sou um pessimista, pois a nova revolução - a revolução da
conectividade - cria modos novos de produtividade e oportunidades.
Porém, não para o trabalho repetitivo de fábrica e não para os índices
de empregabilidade. A maior parte da riqueza gerada por essa revolução
não toma a forma de um trabalho integral.
Quando todo mundo tem um laptop e uma conexão com o mundo, então
todos possuem uma fábrica. Ao invés de nos juntarmos fisicamente, nós
temos a capacidade de nos aproximarmos virtualmente, angariar atenção,
conectando trabalho e recursos, e criando valor.
É desgastante? Claro que sim. Ninguém é treinado para isso, em
iniciar, visualizar, resolver problemas interessantes e então entregar.
Alguns veem esse novo trabalho como uma colcha de retalhos de pequenos
projetos, uma imitação fajuta de um trabalho "de verdade". Outros
conseguem notar que essa é uma plataforma para um tipo de arte, um campo
bem mais justo onde a posse de uma empresa não é uma herança para uma
pequena minoria, mas algo que centenas de milhões de pessoas podem
alcançar.
A situação vai mudar de qualquer forma. De um lado da economia, as
expectativas diminuem e muitos hambúrgueres são fritos. O outro lado é
uma corrida ao topo, em que indivíduos, até então esperando instruções,
começam a dá-las.
O futuro tem cada vez mais traços do marketing - é improvisado,
baseado em inovação e inspiração, e envolve conexões entre pessoas - e
menos traços do trabalho de fábrica, onde você faz o que fez ontem, mas
mais rápido e mais barato. Isso quer dizer que devemos alterar as nossas
expectativas, mudar o nosso treinamento e alterar a forma com a qual
nós lidamos com o futuro. Ainda assim, é bem melhor do que lutar por um
status quo que não mais existe. As boas notícias são claras: cada
recessão longa é seguida de uma época de crescimento baseada na próxima
inovação, e assim segue...
A criação de trabalhos é um falso ídolo. O futuro é baseado em bicos e
recursos e arte e uma série dinâmica de parcerias e projetos. E ele vai
mudar as fundações da nossa sociedade. Nós não precisamos gostar dessa
mudança, mas quanto mais cedo nós a notarmos e buscarmos nos tornar
eixos insubstituíveis nesse sistema, menor será a dor, e nós podemos
voltar ao trabalho que precisa (e agora pode) ser feito.
Essa revolução é, ao menos, tão grande quanto a última, e essa última mudou tudo.