O novo relatório lançado pela Divisão de Política de Desenvolvimento e Análise do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU indica que o crescimento econômico mundial foi consideravelmente mais fraco durante 2012, e espera-se que se mantenha frágil nos próximos dois anos.
De acordo com o relatório "Situação Económica Mundial e Perspectivas 2013" a economia global deverá crescer cerca de 2.4% em 2013 e 3.2% em 2014 – o que representa uma diminuição significativa em relação às previsões feitas pela ONU há seis meses atrás.
Num comunicado de imprensa sobre o relatório pode ler-se que "este ritmo de crescimento estará longe do que é necessário para ultrapassar a crise ao nível do emprego que muitos países enfrentam". "Com as políticas e tendências de crescimento atuais, podem ser necessários pelo menos mais cinco anos para que a Europa e os Estados Unidos consigam fazer face aos empregos perdidos por causa da Grande Recessão de 2008-2009", acrescenta o comunicado de imprensa.
Apontando que as fraquezas nas grandes economias desenvolvidas estão na raiz do abrandamento da economia mundial, o relatório sublinha que muitas dessas economias, em especial as europeias, estão presas num "ciclo vicioso de desemprego elevado, fragilidade do sector financeiro, riscos soberanos elevados, austeridade fiscal e baixo crescimento".
Várias economias europeias e toda a zona euro estão já em recessão, e o desemprego na zona euro aumentou este ano para um nível recorde de quase 12%. Também a economia Americana abrandou significativamente em 2012, e prevê-se que o seu crescimento seja "escasso", rondando 1.7% em 2013.
As dificuldades econômicas na Europa, Japão e Estados Unidos têm repercussões nos países em desenvolvimento, uma vez que a procura das exportações destes países diminui, enquanto a crescente volatilidade dos fluxos de capital e dos preços dos produtos tem também um impacto negativo.
"Uma deterioração da crise na zona euro, o "precipício fiscal" nos Estados Unidos e uma descida brusca da economia na China poderiam levar a uma nova recessão global. Cada um destes riscos poderia causar perdas globais de rendimento de 1 a 3%", alertou o Diretor da Divisão de Política de Desenvolvimento e Análise, Rob Vos, que é também o chefe de equipa responsável pelo relatório.
Apesar dos esforços importantes empreendidos, sobretudo na zona euro, para remediar a asfixia dos Estados causada pelo endividamento, as medidas de austeridade orçamental combinadas com politicas monetárias expansionistas conseguiram apenas resultados ténues para acalmar os mercados financeiros, e foram ainda menos eficazes no propósito de relançar o crescimento económico e criar empregos.
Considerando que as políticas atuais ficam aquém daquilo que é necessário para estimular a retoma econômica o relatório lança um apelo a uma mudança de direção ao nível da política fiscal, e a uma maior concentração num crescimento econômico robusto com sustentabilidade orçamental a médio e longo prazo, em vez dos objetivos de consolidação a curto prazo que estão atualmente no centro das políticas formuladas.
Segundo o relatório, a austeridade orçamental prematura deve ser evitada, e nos casos em que seja necessária a reabilitação das finanças públicas esta deve ser feita preferencialmente através de ajustamentos a médio prazo. O relatório insiste na necessidade de coordenar a reorientação das políticas orçamentais a nível internacional, com vista a adaptá-las, tanto quanto possível, a um conjunto de políticas estruturais que promovam a criação direta de empregos e o crescimento verde.
Outra das recomendações avançadas pelo relatório é a melhor coordenação internacional das políticas monetárias e uma reforma rápida da regulamentação dos sectores financeiros, a fim de controlar a volatilidade das taxas de câmbio e dos fluxos de capitais, já que estes dificultam as perspectivas econômicas dos países em desenvolvimento. É igualmente necessário garantir que ajuda ao desenvolvimento é suficiente para ajudar as nações mais pobres a progredir mais rapidamente para a realização dos seus objetivos de redução da pobreza e a investir no desenvolvimento sustentável.
Neste contexto, constatando que a ajuda ao desenvolvimento está a diminuir, o relatório refere ainda que, além de a austeridade orçamental praticada pelos países doares prejudicar a sua própria retoma econômica esta não deve em circunstância alguma ser feita em detrimento das tentativas de desenvolvimento por parte dos países mais pobres.