quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A quem interessa a cracolândia em São Paulo?







Antigamente, uma Cracolândia não interessava no jogo político. Como se trata de um reduto de pessoas que dificilmente portam títulos de eleitor - e condições de usá-los -, tudo se restringia a incursões pontuais de autoridades, ora de Saúde, ora de Segurança. 

A população que podia evitava seus domínios; a que mora ou trabalha nos seus arredores, convivia com o medo, a miséria e a violência. Se viesse uma denúncia da oposição (qualquer que fosse a que estivesse no turno), ninguém se comovia. Era terra de ninguém, inexistente no mapa da maioria dos paulistanos. 

Mas recentemente as capitais da sexta economia mundial descobriram que seus centros degradados poderiam ser úteis para atrair parceiros ideais: empreiteiras e imobiliárias capazes de contribuir de forma decisiva para as campanhas e que andavam meio chateadas com a estagnação das áreas nobres para a construção. De repente, notaram a mina de de terrenos bem localizados, que deveriam deixar de ser terra de ninguém e pertencer a alguém. 

Em São Paulo, todos projetos concedidos à administração da iniciativa privada, que pode explorá-la e transformá-la sem muitos debates e sem que o urbanismo seja a meta principal no processo de revitalização. Na Luz, a maior concentração de usuários continua sendo vista na esquina da Rua Helvétia com a Alameda Cleveland, segundo policiais e guardas que pediram para não terem os nomes divulgados. Grupos de 200 a 500 viciados, entre homens, mulheres, idosos e até crianças, perambulam com cachimbos artesanais e latinhas de refrigerantes amassadas para fumar o crack na frente de bases móveis da PM e GCM. Os agentes da lei alegam que não podem fazer nada.

Os governos ajudam os consórcios como podem. A prefeitura de São Paulo, por exemplo, já toca o processo de demolição de imóveis desinteressantes nos arredores da Nova Luz e, em parceria com o Estado, espana o miserê que não vota. Constitucionalmente, não se pode obrigar um viciado a se tratar, mas é possível debandá-los - o que, para a cosmética do jogo eleitoral, já é suficiente. 

Por sua vez, a prefeitura e governo Estadual nunca se estabeleceu nenhum programa de longa duração - algo fundamental no combate a um vício devastador com toques de epidemia, como o crack - quando prefeito,governador e presidente não estão nem ai para o assunto. 

Agora toda a cidade se dedica a debater o tema, mas com prazo certo até as próximas eleições. Avanços? Sem dúvida. A Cracolândia finalmente interessa; os humanos, ainda não.


Interessa ao crime organizado, policiais corruptos , Ongs que recebem repasse e ao governo que recebe verba para "tratar" os Walking Deads! Entendeu?