sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Ferramenta – “Compliance” cuida da ética nos negócios.

Compliance significa agir de acordo com determinados padrões e tem a ver com a criação de instrumentos de transparência. Cada vez mais comum em empresas americanas, especialmente as de grande porte e do setor bancário,  esse novo conceito se aplica ao universo da responsabilidade social empresarial, principalmente aos pontos que tratam da governança corporativa e das diretrizes éticas. Compliance reúne os meios para garantir que as grandes organizações não desrespeitem leis nem causem danos às partes interessadas.

Na prática, a implantação de compliance implica colocar em ação um programa que compromete todos os funcionários com a atitude de “fazer a coisa certa todos os dias”. Esse esforço corporativo exige controle, auditoria, investigação, monitoramento, incentivos, disciplina organizacional e investimento em comunicação interna. O interesse cada vez maior pela ferramenta se deve ao fato de que o compliance contribui para prevenir processos e proteger  reputações, reduzir multas e penalidades, fraudes financeiras e corrupção interna, e estimular uma cultura ética nas empresas.

Até pouco tempo atrás  o termo era visto como sinônimo de código de ética ou de conduta. Mas ele é mais amplo. Já se sabe que o código de ética e um monte de discursos bonitos não funcionam para produzir compromisso e transparência. Um documento, ainda que de conhecimento de todos os funcionários, não significa nada sozinho. Tudo o que importa é o que os empregados fazem com ele.

Outro equívoco constante é achar que compliance equivale à Responsabilidade Social e Eempresarial.  Os termos evidentemente não são sinônimos. Responsabilidade Social é uma noção mais ampla que engloba também as ações externas de uma empresa. Já o compliance se aplica ao ambiente interno da empresa, suas práticas e procedimentos e controles. Para melhor compreender a diferença,por exemplo: uma empresa pode ser socialmente responsável externamente e não ter compliance, e vice-versa. No primeiro caso, o mais comum, a organização pode realizar ações de SER, mas se for flagrada, por exemplo, em um esquema de corrupção, vai ter sua reputação, imagem, credibilidade e capacidade de fazer negócios abaladas.

Como implantar

Para quem deseja implantar a ferramenta, mas não sabe como fazê-lo, vou  ensinar sete passos básicos (veja quadro). Ao contrário do que se imagina, compliance não é um instrumento específico do universo empresarial. Pode ser aplicado a qualquer tipo de organização  com grupos com interesses peculiares que protegem seus integrantes. “Quem está dentro de uma organização, não consegue enxergar os que potencialmente podem ser impactados por suas ações. Aprende a lidar com o chefe e os subordinados. E por isso se sente protegido. Mas as pessoas em organizações fazem coisas que não fariam como indivíduos”.

Embora empresa menores também possam se valer da ferramenta, acho que ela se aplica, de forma mais urgente, nas companhias de grande porte. A medida da necessidade deve se medir pelo número de colaboradores, escritórios e plantas industriais e extensão geográfica da atuação das empresas. Controlar a conduta de poucos funcionários é mais fácil. Se todos os que trabalham numa empresa podem ser vistos assim que se entra no espaço físico da organização, o uso de compliance pode ser desnecessário. 

No caso das empresas com mais funcionários – ou que operam com colaboradores em diferentes localidades –, essa ferramenta consiste em boa solução para disciplinar procedimentos de ética, transparência e boa governança.

Os desafios da operacionalização

A implantação de um programa de compliance envolve algumas dificuldades operacionais. A primeira é o exercício do controle sobre o poder. O ponto mais vulnerável para a empresa, no que se refere à ética e transparência, são os funcionários com alto cargo. A segunda diz respeito à difícil tarefa de compreender todos os riscos envolvidos no processo. E a terceira refere-se ao desafio, sempre complexo, de atingir a todos na organização. Não existe sucesso sem uma boa estratégia de comunicação. “Um discurso entediante sobre leis vai fazer seus interlocutores dormirem.

É preciso encontrar uma maneira de interessá-los e empolgá-los. Parte disso se resolve a partir da clara expressão dos valores da empresa. E também a partir dos exemplos que vêm de cima. Se os empregados não acreditarem no tipo de conduta que a organização prega e defende, ficarão desestimulados”. Por fim, o quarto desafio está em fazer com que os gestores com mais poder apóiem e assumam a responsabilidade pela conduta expressa no programa.

A maior de todas as dificuldades é a sempre polêmica subjetividade que cerca o debate sobre ética. Incorporar esse conceito à cultura de uma empresa não deve ser visto como um esforço de ordem moral. Precisa ser encarado como elemento um novo modo de fazer negócio no mundo atual. Investir na transparência é  “simplesmente um bom negócio”. “Pode reduzir os custos, tornar a companhia mais eficiente e mais competitiva”, completa.


Compliance em sete passos

1. Padrões e procedimentos: criar um código de conduta que inclua os valores da empresa e garantir o controle interno em relação ao mau uso do poder
2. Infra-estrutura: colocar como responsável pelo programa um executivo com poder e alto cargo na hierarquia corporativa, assegurar gestão e transparência do processo para que os líderes compreendam o que está acontecendo e verifiquem o efetivo funcionamento, e garantir que o programa atinja todas as áreas da empresa
3. Delegação de responsabilidades: pessoas com cargos que exigem responsabilidade devem ser absolutamente confiáveis e os sistemas internos da empresa não podem facilitar atividades ilegais
4. Comunicação efetiva: oferecer um treinamento sobre o programa de compliance e seus riscos, de forma prática, para que os funcionários incorporem e não esqueçam as idéias e procedimentos
5. Prevenção a violações: a empresa deve abrir espaço e providenciar segurança para os colaboradores procurarem conselhos e reportarem condutas criminais sem temer retaliações futuras
6. Disciplina: reforçar as medidas disciplinares, especialmente aos líderes; punir má conduta de acordo com a responsabilidade delegada, evitando a impunidade; oferecer incentivos para desempenhos compatíveis com o programa .
7. Responder com eficácia: investigar pronta e profundamente todo os processos, corrigindo eventuais problemas e suas causas. Reagir da maneira equivocada, propondo acordos e encerramento do assunto sem esclarecimentos, pode ser pior do que o erro inicial.