segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Reciclagem dos refrigerantes halogenados




 
Cilindros para recolhimento e reciclagem
(crédito: CoolConcerns)

A reciclagem dos fluidos refrigerantes halogenados (CFC, HCFC e HFC) é uma prática essencial para a eliminação da emissão das substâncias que destroem a camada de ozônio e contribuem com o desequilíbrio do clima de nosso planeta. Por meio desse processo, esses produtos são convertidos em insumos ambientalmente aceitáveis com nível de pureza apropriado para ser reutilizado nos equipamentos de refrigeração e ar condicionado.
A liberação do gás refrigerante na atmosfera, além de incorrer em crime ambiental, é um desperdício de dinheiro, uma vez que essa substância pode ser recuperada e reutilizada. É fundamental que a empresa responsável pelo recolhimento do fluido refrigerante possua equipamentos adequados para tal finalidade, tais como: recolhedora de gás, bomba de vácuo, detector de vazamento, cilindros de recuperação, manômetros, etc, assim como técnicos de refrigeração treinados regularmente por instituições de ensino, entidades de classe ou pelas próprias empresas fabricantes de compressores, componentes frigoríficos, etc., e que sejam também cadastradas no IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Recolhimento do refrigerante
O refrigerante poderá ser recolhido por vários motivos, incluindo a necessidade de acesso a partes do sistema que necessitam de reparos ou troca de componentes, troca de refrigerante contaminado após queima do motor, reparo de vazamentos, ou se o sistema tiver que ser desmontado e levado para manutenção.
Antes de iniciar o processo de recolhimento, o técnico deverá tomar conhecimento da identidade do refrigerante e do óleo lubrificante. Algumas vezes, os sistemas frigoríficos são carregados com refrigerantes diferentes dos originais, trazendo riscos adicionais. É recomendado checar as pressões e temperaturas operacionais do sistema frigorífico em comparação com as propriedades do refrigerante anterior.
A máquina recolhedora remove o fluido refrigerante do sistema frigorífico juntamente com óleo lubrificante miscível e os transfere para o cilindro de recuperação de maneira segura. O equipamento de recolhimento e seus aparatos como cilindro de serviço, manômetros, bomba de vácuo, filtros secadores, etc., devem ser operados e mantidos de acordo com as especificações do fabricante da máquina recolhedora para minimizar o risco de emissão de refrigerantes ou óleo para o meio ambiente.
As seguintes precauções são necessárias quando operar a máquina recolhedora de fluidos refrigerantes:
- Familiarizar-se com o equipamento de recolhimento, ler o manual de instruções e aplicar todos os procedimentos e métodos a cada vez que a máquina for utilizada;
- Assegurar que todas as fontes de energia estejam desconectadas de qualquer equipamento que necessite recolhimento;
- O equipamento de recolhimento deve estar conectado ao sistema de refrigeração para que a transferência do fluido ocorra, seja entre as partes do sistema, ou do sistema para um cilindro de serviço em separado;
- Usar mangueiras de boa qualidade, checando se elas estão devidamente ajustadas e firmes, e inspecionando suas conexões regularmente;
- Antes de abrir o sistema, checar a pressão no sistema frigorífico;
- A pressão do sistema frigorífico deve ser reduzida abaixo de 0,3 bar (abs), através do uso das máquinas de recolhimento;
- Após esta ocorrência, a pressão pode ser reduzida ainda mais com o uso de bomba de vácuo;
- Em nenhuma circunstância os refrigerantes devem ser liberados na atmosfera. Os cilindros de recolhimento não devem ter a sua temperatura rebaixada para ajudar no seu enchimento;
- Após o recolhimento do fluido refrigerante, contatar a companhia de reciclagem para que faça a coleta e o transporte de refrigerante indesejado.

Máquina recolhedora de gás
Os cilindros de recolhimento têm tamanhos variados e possuem diferentes arranjos de válvulas e códigos de cores. O uso de cilindros de recolhimento apresenta risco particular, portanto algumas medidas de precaução devem ser tomadas:
- Familiarizar-se com as características do cilindro de recolhimento;
- Os fluidos refrigerantes devem apenas ser transferidos para os cilindros específicos, sinalizados para cada tipo específico de refrigerante, uma vez que cada um tem pressões saturadas diferentes;
- Assegurar que o cilindro de recolhimento é do modelo correto, e não utilizar cilindros convencionais de refrigerantes ou cilindros descartáveis;
- Usar apenas cilindros limpos, livres de contaminação por óleo, ácido, umidade, etc.;
- Assegurar que o cilindro de recolhimento esteja em boas condições de utilização. Checar visualmente se há danos (amassados, bolhas, rachaduras etc), e se passou por testes de pressão com datas de validade;
- Evitar a mistura de refrigerantes de níveis diferentes, como reciclados e novos num mesmo cilindro;
- Não misturar refrigerantes diferentes no mesmo cilindro de recolhimento porque algumas combinações podem causar aumento de pressão inesperado, gerando explosões;
- Não exceder a carga máxima permitida de enchimento dos cilindros, que difere para cada refrigerante;
- Levar em consideração o óleo, que tem uma densidade menor e poderá resultar em excesso do volume máximo autorizado no enchimento do cilindro;
- Nunca adicionar nitrogênio ou oxigênio ao cilindro de recolhimento, uma vez que isto pode resultar em pressão excessiva e potencial risco explosivo;
- Após a conclusão do serviço, etiquetar o cilindro com o nome do refrigerante, quantidade, etc.

A capacidade máxima de enchimento de um cilindro é em função do volume do mesmo e da densidade líquida do refrigerante a uma temperatura de referência. Recomenda-se completar até 85% de enchimento líquido devido à presença do óleo. Se o cilindro estiver sobrecarregado, é provável que ocorra o aumento de temperatura devido à expansão do refrigerante líquido, causando explosão. Veja os efeitos de enchimento nos cilindros de recolhimento na figura abaixo.

Plano Nacional de Eliminação de CFCs – PNC
O Brasil através do PNC - Plano Nacional de Eliminação dos CFCs criou um programa de entrega de recolhedoras, equipamentos de reciclagem e centros de regeneração com o objetivo de recolher e reciclar de forma segura os fluidos refrigerantes e evitar as fugas dos mesmos na atmosfera. Além disto, em parceria com o PNUD, GIZ e Senai realiza uma série de treinamentos junto as empresas e técnicos do setor conscientizando os profissionais da importância deste tema.
Centros de regeneração
 No total são cinco Centros de Regeneração - CR instalados no Brasil localizados na região Sudeste - 2 em São Paulo e 1 no Rio de Janeiro, Sul (1 em Porto Alegre) e Nordeste (1 em Recife). Os Centros de Regeneração são pontos de coleta, reciclagem e venda de fluidos halogenados (CFC, HCFC e HFC), e foram criados em cumprimento às determinações do PNC. As empresas ou técnicos que recolherem estes fluidos refrigerantes vão poder optar pela venda do fluido contaminado ou a regeneração do mesmo gerando uma economia de até 30% em relação ao fluido novo. Os benefícios para quem trabalha neste sentido são atender as legislações vigentes, normas ambientais como a ISO 14.000, realizar manutenção preventiva de qualidade no sistema e preservar o planeta para as futuras gerações.  As etapas da reciclagem podem ser vistas na figura abaixo.

Pontos de coleta
As empresas recolhem as substâncias e trazem os cilindros até o Centro de Regeneração e Reciclagem que irá tratar adequadamente este gás e devolvê-lo com nível de pureza para reutilização em outros equipamentos de refrigeração. As empresas que têm interesse em se tornar pontos de recolhimento e regeneração devem fazer a solicitação de equipamentos junto ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), e também precisam requerer a licença ambiental com a devida aprovação.
Regeneração e reciclagem
Após o recolhimento, os cilindros contendo os gases devem ser encaminhados para um centro regional de regeneração, onde no processo de regeneração, o fluido contaminado é tratado em equipamento com capacidade para filtrar partículas, retirar umidade e acidez, separar gases não condensáveis e óleo. Em casos de fluidos misturados não é possível fazer a reciclagem.
Reutilização
Depois de regenerado, o fluido refrigerante poderá ser novamente utilizado. Para receber a certificação de “regenerado”, o fluido refrigerante precisa passar por teste laboratorial para atingir um nível de pureza de 99,8%, mesmo nível de um fluido refrigerante novo. Além de diminuir os impactos ambientais, após a regeneração o fluido refrigerante poderá ser vendido por um valor 30% mais barato.
Programa Brasileiro de Eliminação de HCFC’s - PBH
Em resumo, o PBH é a complementação do PNC. Todos os países signatários do Protocolo de Montreal, incluindo o Brasil, comprometeram-se a cumprir um novo cronograma de eliminação dos HCFCs, que deve ser extinto até 2040.
O PBH tem como objetivo cumprir o cronograma para a eliminação dos HCFCs, que estabelece o congelamento dos níveis de produção e importações em 2013, sua redução em 10% até 2015, e o banimento total em 2040.
A primeira fase do cronograma define que cada país tem um limite de utilização da substância até 2013. Após esta data, os participantes do acordo terão que voltar à média de uso dos HCFCs registrada entre 2009 e 2010. Na segunda etapa do programa, a meta é reduzir em 10% a utilização da substância até 2015. Já em 2020 e 2025, a diminuição terá que ser de 35% e 67,5%, respectivamente. Em 2030, os consumidores terão que abrir mão de 97,5% do consumo de HCFC, e finalmente em 2040 a total eliminação.
Entre as substâncias que serão eliminadas do mercado, destacam-se o R-22 e o R-141b, usados em larga escala como fluido refrigerante. Segundo o MMA, em 2007, o consumo de HCFCs no Brasil foi de 1.545,2 toneladas em PDO (Potencial de Destruição da Camada de Ozônio). Deste total, 53,8% corresponde ao uso do R-22 e 45,1% ao consumo do R-141b.
Treinamento para o setor de refrigeração
No Brasil, existem várias razões que provocam situações como o alto índice de consumo de fluidos refrigerantes pelo setor de serviços, entre elas:
- Má qualidade técnica e baixo padrão das práticas de manutenção e de conserto;
- Falta de ferramentas adequadas para serviços de manutenção e conserto;
- Baixa qualidade das instalações e ausência de manutenção preventiva.
É muito importante que os técnicos de refrigeração que trabalham em campo sejam regularmente treinados para evitar a liberação desses fluidos na atmosfera. Esses profissionais podem recorrer a cursos de “boas práticas” sobre manutenção e recolhimento de fluidos refrigerantes oferecidos pelas instituições de ensino, entidades de classe, empresas privadas, etc., tais como: UFU, Senai, Cefet, ABRAVA, ASBRAV, DuPont, BITZER, Frigelar, Bandeirantes Refrigeração, etc..Também o Governo Federal está fazendo a sua parte, oferecendo treinamento especializado.O MMA juntamente com o apoio do PNUD e GIZ, promovendo treinamentos para empresas do setor de refrigeração beneficiadas pelo Plano Nacional de Eliminação de CFCs. Estes treinamentos são realizados nas regiões Norte, Nordeste, Centro Oeste, Sudeste e Sul do País. Os temas do treinamento são: recolhimento e reciclagem de fluidos frigoríficos: treinamento teórico e prático e monitoramento das informações prestadas pelas empresas; ações brasileiras para proteção da camada de ozônio; Utilização do Cadastro Técnico Federal – CTF/IBAMA; e operacionalização das Centrais de Regeneração estabelecidas nas regiões do treinamento. O objetivo desse treinamento é esclarecer as empresas do setor a respeito de seus compromissos nas ações de recolhimento, reciclagem e regeneração dos fluidos refrigerantes no País.
Alessandro da Silva – Engenheiro de aplicação da Bitzer Compressores 
Referências bibliográficas
MMA/ASBRAV/ABRAVA - Manual de Boas Práticas em Supermercados para Sistemas de Refrigeração e Ar Condicionado, 1ª edição, 2008.
GTZ – PROKLIMA - Manual de Segurança Recolhimento e Reciclagem de Fluidos Refrigerantes, 1ª edição, 2007.
Sites consultados:

www.mma.org.br
www.pnud.org.br
www.protocolodemontreal.org.br
www.ibama.gov.br
www.giz.de
www.abrava.com.br
www.asbrav.org.br
www.sp.senai.br
www.ambientegelado.com.br