quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Qual a Perspectiva Econômica para 2016?

De acordo com a pesquisa das expectativas do mercado, realizada pelo Banco Central do Brasil (BCB) com expectativas até outubro de 2015, o cenário de crescimento econômico é cada vez mais trágico. As expectativas de mercado no início de 2013 para o crescimento do PIB em 2015 se encontravam próximas de 3,5% (que era uma expectativa do PIB potencial na época). Contudo, a piora gradual mas contínua da condução da política econômica, resultando numa das mais graves crises fiscais o país (“nunca antes nesse país…”) colocou essa projeção em trajetória de queda. Assim, em 2015 a economia deve cair 3%. Com sorte 2016 não reduzirá  a economia mais de 1%, apesar das expectativas já apontarem queda de 1,5%. Conforme as projeção, talvez em 2019 nós tenhamos o mesmo nível de produção que em 2014. Considerando também o ano que passou, são 3 anos de estagnação econômica com inflação em alta. São 3 anos de perda de poder de compra. São 3 anos (no mínimo) de consequência dos erros econômicos e políticos dos últimos anos. E são outros 3 para recuperar o tempo perdido. O Brasil tenta dar um passo ao futuro mas parece dar dois passos ao passado e é por isso que sempre seremos o país do futuro.
A inflação que fechou 2014 praticamente no teto do intervalo tolerado (6,4%) está bem acima da meta (4,5%) para 2015 enquanto os juros fecharam o ano passado em patamar acima de quando a presidente assumiu (em 11,75%), com viés de alta para combater a inflação que continua em patamar elevado. Para os próximos anos a expectativa de inflação acima da meta se mantém (9,85% para 2015 e 6,2% para 2016), com convergência para meta no médio prazo (2019!, sim é frustrante). Na última avaliação a expectativa de inflação estava em 8,5%, ou seja, um rápida deterioração da situação em pouco tempo. Enquanto isso, a taxa de juros que deve oscilar dentro da casa de 2 dígitos nos próximos anos, com expectativa de 14,25% para 2015 e 13,0% para 2016 (lembrando que a pesquisa FOCUS reflete uma percepção do mercado sobre vários indicadores econômicos). Nesse cenário de inflação e juros altos, as projeções de PIB devem continuar em baixa.
  • PIB
Nos próximos dois anos o brasileiro ficará com mais saudade de olhar para o PIB de 2014 do que pensar em como vai terminar os anos de 2015/2016. A trajetória de revisões do PIB nos últimos anos que colocou a projeção em patamar negativo (recuo de 3% do PIB) é reflexo da postura e das políticas econômicas do país. Os erros se sobressaem aos acertos (claramente) e ao invés de crescer e gerar renda, nós estamos destruindo empregos, produção e empobrecendo. As políticas heterodoxas de anabolizar o PIB quando o ciclo era de alta só fizeram com que a situação fiscal se deteriorasse e esgotaram os instrumentos para se combater a crise quando ela de fato chegou. Conclusão? Os efeitos da crise se aprofundaram.
Nossa presidenta mitológica (ela é um mito, para quem não sabe, afinal em cada discurso há um grande desprendimento da realidade, como no recente caso de estocar vento…) achou que era Ícaro, prometeu o Bolsa-Enxame e o criou o programa “Minha Colméia, Minha Vida” em troca de cera das abelhas e arrancou as penas de uma gaivota (na versão tupiniquim deve ter sido uma galinha e daí que deve vir o vôo de galinha do PIB). Assim, construiu suas asas e voou, fugindo dos labirintos de Brasília e quis voar perto demais do Sol (ou do PMDB). Parece não ter ouvido o conselho dos ortodoxos e as asas derreteram e acabou por cair ao mar da política. O final trágico ainda não se anunciou, mas seguramente nossa versão de Ícaro está a deriva e talvez se afogue.
Desde 2011 já havia sinais de esgotamento do modelo econômico, sinal de que já estávamos perto demais do Sol. Não foi surpresa o PIB de 2014 crescer 0,1%, assim como não deve ser surpresa que o PIB de 2015 seja negativo e que em 2016 também devemos retrair a atividade econômica. Sair de uma perspectiva de crescimento de 3,5% para -3,0% esse ano (são 6,5 pontos percentuais de diferença)  é algo que poucos países sérios conseguiram até hoje. Talvez o Brasil não seja sério, conclusão. Se em três anos (2014-2015-2016) o Brasil poderia crescer acima dos 3% ao ano (ou 9% no acumulado) mas na prática deve cair 4,5% no acumulado, pode-se dizer que são 13,5% de PIB que não foi gerado. Por favor, coloquem esse número na conta da eleição! Não, não é desvio nem corrupção, é inabilidade e incompetência! São R$ 737 bilhões que deixaram de ser criados, são R$ 3.685 que deixou de crescer na renda per capita do brasileiro.
Infelizmente, as trajetórias para os anos além de 2016 também começam a reduzir. O ano de 2015 era considerado o ano do ajuste no início do ano, mas até agora não se viu nada. Comunicar um ajuste não é o mesmo que executar um ajuste (para ler mais sobre isso veja: Ajuste Fiscal ou “Alô, alô, planeta terra chamando…”). O país está andando para trás. O desemprego está aumentando, a arrecadação continua a ser mais fraca e isso requer um novo ajuste para fechar as contas. Enquanto a presidente fica com “popularidade em baixa”, o cidadão (na maioria quem a escolheu) fica com desemprego, fica com “renda em baixa”, fica com dívida em alta e fica com sofrimento para toda família.
  • Inflação
Como já retratado no último update de mercado (em Jun/2015 – aqui), duas observações sobre a inflação são interessantes (mas não são boas). A primeira é a de que o Banco Central falha em perseguir a meta de inflação. Durante todo o primeiro mandato da presidenta Dilma não houve convergência para a meta de inflação e não deve haver para 2015 nem para 2016. Eu só posso entender isso como uma falha, independente de qualquer viés ideológico, pois comunicar algo e não atingir é uma falha e ponto. A segunda observação é referente ao estrago dos preços administrados (que foram segurados artificialmente até se ganhar a eleição), que destrói o IPCA de 2015 e contamina o resultado para os próximos anos. Temos 2015 com quase 10% de inflação (perda de renda do trabalhador), temos o BC não aumentando juros nas últimas duas reuniões e as expectativas subindo mais e temos 2016 apontando para uma inflação acima do limite superior de tolerância da inflação (me recuso a chamar de teto da meta, pois a meta é 4,5%, sendo em si mesma o próprio piso e teto, senão não era meta). O limite superior significa já ter estourado a meta e superar o limite superior significa estourar a tolerância, o que não parece querer significar nada, aliás não sei mais o motivo de existir esse limite, já que não tem uso.
Assim, deixamos a meta em aberto e dobramos a meta, uma vez que a meta de 4,5% já foi superada e o dobro dela também. Há pouco para se dizer a não ser que não existe gestão no Banco Central, a julgar não pelo trabalho diário de todos os excelentes técnicos, mas a julgar pelos resultados entregues a sociedade. No fim do dia, vale o que é entregue.
  • Juros
De pedalada em pedalada, o juros foi subindo o morro. Acho até que deveríamos criar uma ciclovia para que o juros passeie tranquilamente. Em reportagem do Valor em 14/10 (BC admite que juro baixo causou inflação – aqui), veiculada por outros sites de informações, o próprio BC se coloca como responsável por ter causado pressão inflacionária nos últimos anos, consequência dos mandos políticos de forçar a taxa de juros para baixo, como queria (de forma velada) a presidenta. Assim, no gráfico abaixo a montanha russa dos juros no país apontam mais uma vez para a seriedade das instituições no Brasil: gostamos de viver com emoções! É o nível mais alto dos juros, em meio a crise, que corrobora a visão dos anabolizantes econômicos nos períodos de alta da economia e os efeitos colaterais nos momentos da crise, aprofundando os sintomas.
Visto dessa maneira, não há que se esperar projeções positivas. Para 2015, apesar da alta do dólar que poderia contaminar a alta de preços, o BC não elevou os juros, por entender que os efeitos na economia seriam mais devastadores do que a inflação. Méritos do BC e culpa do BC, pois está refém de uma situação que é a soma de erros históricos e interferência política. Fez bem em não aumentar os juros mas ainda está operando de forma passiva, com as mão atadas. Questiona-se a credibilidade mais uma vez pela passividade. Até o final do ano a SELIC deve permanecer em 14,25% ao ano, segundo as projeções de mercado. Para 2016 espera-se uma redução suave até o final do ano, para fechar em 13%.
Façamos as contas de SELIC em 14,25% em 2015 com inflação de 9,85% e a taxa de juros real ex ante é de 4,4% ao ano e para 2016 temos que a taxa de juros real deve se aproximar de 6,8%. Nesse nível, são poucos os investimentos produtivos que batam essa taxa (considerando principalmente que a demanda está em baixa e não tem prazo para recuperação), motivo pelo qual a taxa de investimento no país não deve se elevar nos próximos anos, tendo o mercado de títulos públicos a maior atratividade. Soma-se a isso o fato do governo estar em péssima situação fiscal e ter que emitir títulos com elevadas taxas de retorno, como mostra a tabela abaixa retirada do site do Tesouro Direto (acesse aqui). As taxas reais acima de 7% e mais até para os títulos prefixados (para inflação de 6,2% em 2016, o pré 2018 pagará 9,61% de juros ao ano) colocam a trajetória de dívida do governo numa crescente situação de piora.
A situação econômica no país não é boa e não tem muito prazo para melhorar nos próximos 2 anos. O reflexo das escolhas individuais do pais nos colocaram nessa situação, de forma democrática. Agora todos pagamos pelos erros do governo.