quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Projeções para 2014 - América Latina

América do Sul América Latina Brasil (Foto: Reprodução internet)

Fazer projeções para o futuro é uma tarefa que envolve muitos riscos, e isso não é segredo para nenhum de nós. Algumas das previsões da Speyside foram certeiras. É o caso da ascensão dos Andes, o interesse cada vez maior da Europa na América Latina, a onda anti-corrupção no Brasil, maior investimento nos setores de saúde e educação e a contínua expansão da classe média. Outras não se concretizaram - o candidato da oposição não foi eleito na Venezuela, a Argentina não pediu a moratória e Felipão Scolari continua à frente da seleção brasileira - ou ainda estão em curso para 2014, como é o caso do acordo de paz com as FARC na Colômbia.
Para 2014, os consultores da Speyside fizeram o mesmo exercício e projetaram o cenário deste ano para os países da América Latina. Confira as previsões.
A Venezuela mergulhará em crise

Em 2013, Nicolás Maduro venceu o candidato da oposição, Henrique Capriles, nas eleições presidenciais pela menor margem já registrada oficialmente no país e ainda escapou de um desastre nas eleições municipais que se seguiram. Mas a economia agora está em queda livre. Maduro, impulsionado pela autorização do congresso que lhe concedeu poderes especiais para governar por decretos e pelo sucesso nas eleições municipais, coloca a culpa dos infortúnios da economia em seus adversários políticos e nos interesses internacionais. Mas por quanto tempo mais esse conto vai durar? Sem o amor, o respeito e o temor despertados por Hugo Chávez, Maduro está vulnerável e a crise econômica está a ponto de ser o estopim para agitações sociais e para a crise política. A desvalorização da moeda pode ser a solução para o déficit orçamentário do governo e para reduzir a fuga de capitais, mas ela poderá agravar a escassez de produtos no mercado interno. Maduro tomará alguma atitude antes que seja tarde demais? Acreditamos que outras pessoas poderão tomar essa decisão por ele...

A reeleição de Dilma no Brasil

Dilma Rousseff deverá vitoriosa das eleições presidenciais em outubro. Será um caminho árduo, especialmente se junto com a Copa do Mundo presenciarmos a volta dos protestos de junho de 2013. Mas Dilma continuará no poder. Eduardo Campos e Marina Silva, candidatos do Partido Socialista do Brasil (PSB), serão uma surpresa nas eleições, terminando finalmente com a polaridade entre o PT e o PSDB e posicionando estrategicamente seu partido para as eleições de 2018. Mas antes disso, o Brasil provará que as críticas sobre o desempenho econômico do país e as piadas sobre o compacto calendário de trabalho do ano são completamente infundadas. De uma maneira paradoxal, após um tumultuado ano de 2013, a Copa do Mundo e as eleições vão significar um período de relativa estabilidade e transparência para tomada de decisões políticas, o que vai permitir que os negócios se concentrem em gerar receitas. Muitos dos principais membros do gabinete de Dilma renunciarão a seus cargos para concorrer às eleições estaduais. Seus substitutos deverão ter um perfil bastante técnico para garantir que as coisas corram com (relativa) tranquilidade até outubro.

As commodities vão continuar em alta

Recentemente presenciamos uma visível retração do boom das commodities, que, com a consistente demanda chinesa ano após ano, fez as exportações crescerem de $4 bilhões para $71 bilhões entre 2000 e 2012. Dados os investimentos que vemos nossos clientes planejando para o setor de minas e energia, acreditamos que as previsões mais fatalistas são um tanto exageradas, já que os países - da Indonésia à Inglaterra - compensarão a redução da demanda chinesa. A demanda na América Latina por si já cobrirá grande parte desse déficit e será impulsionada por ambiciosos projetos de infraestrutura. O Brasil, por exemplo, planeja investir mais de US$ 400 bilhões em portos, aeroportos, ferrovias e estradas nos próximos anos. Apesar do cenário desfavorável e da preocupação com relação aos baixos preços em alguns setores da indústria, esperamos que o setor de commodities continue em alta na América Latina no ano de 2014.

A reforma de Bachelet para manter o Chile no mesmo caminho

A volta de Bachelet à presidência do Chile era esperada, mas ela terá de enfrentar uma quantidade considerável de desafios quando assumir o cargo do atual presidente Sebastián Piñera em março. No topo de suas prioridades estão as reformas necessárias para transpor os obstáculos da desigualdade social, ponto alto de sua campanha durante as eleições presidenciais. Seguindo essa linha, Bachelet cumprirá suas promessas de reformas na educação e de combate às evasões fiscais das grandes empresas. Também é esperado que seu governo desenvolva um plano emergencial de ação para acelerar novos projetos energéticos. Entre eles, o aumento do uso de gás natural liquefeito - o conhecido GNL - e a aprovação de leis que favoreçam produção de energia renovável. Por muitos anos, o Chile foi um exemplo de crescimento de livre mercado América Latina e precursor das políticas liberais na região. Bachelet não vai ousar a ponto de assustar os investidores estrangeiros e frear o crescimento. Ela se manterá fiel ao consenso econômico liberal dos países da Aliança do Pacífico. Como sua base aliada vai reagir a isso é algo que vamos esperar pra ver, mas podemos prever mais protestos antes do final do ano.

A Argentina não pedirá moratória, mas os problemas ainda não estão resolvidos

Os problemas da Argentina são muitos, e nenhum deles é recente. Uma moeda artificialmente supervalorizada, uma inflação exorbitante e persistente, subsídios estatais que beiram o desperdício, agitação social e um cenário hostil para concretização de negócios afundaram a economia da Argentina, que está à beira de um colapso. Muitos especialistas esperam que o país peça a moratória (assim como vimos acontecer com as previsões do último ano). E depois de perder a apelação feita à corte norte-americana há alguns meses, a Suprema Corte dos Estados Unidos concordou em julgar a questão sobre a legitimidade ou não da dívida de US$ 1,33 bilhão com os chamados 'fundos oportunistas'. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos está do lado da Argentina nessa disputa, lembrando que o Foreign Sovereign Immunities Act (FSIA) protege os governos estrangeiros contra a perda de seus ativos. Embora acreditemos que a Argentina não pedirá a moratória, a história sobre a Libertad e a possibilidade de decisão da Suprema Corte em favor da Argentina, não pode mascarar os graves e persistentes problemas econômicos da Argentina. A bonança derivada do óleo de xisto, na qual a Presidente Cristina F. Kirchner fundamenta todo o futuro econômico da nação, pode não chegar a tempo de salvar o país.

A reeleição de Santos e o acordo de paz com as FARC na Colômbia

As negociações de paz entre as FARC e o governo colombiano continuam avançando apesar dos constantes atos de violência e da importante oposição encontrada dentro do país. O presidente Juan Manuel Santos concorrerá pela reeleição presidencial em maio e espera ter êxito em um acordo que pode ser considerado histórico com as FARC. Teoricamente, um acordo como esse será submetido a referendo popular concomitantemente às eleições. É uma proposta ambiciosa. Foi possível chegar a um acordo com relação à reforma agrária e à participação política das FARC, mas ainda há muitos desafios a serem superados: o desarmamento, a produção e o comércio de drogas ilícitas, os direitos das vítimas e a implementação do acordo de paz. Vozes da oposição, lideradas pelo antecessor de Santos - Alvaro Uribe - opõem-se frontalmente a esse tipo de diálogo e a qualquer atitude leniente com relação ao tratamento jurídico dado às guerrilhas. O presidente Santos parece entusiasmado para entrar em um período pacífico de prosperidade econômica e conta com o apoio da opinião pública. Acreditamos que Santos sairá vitorioso das eleições, mas não é possível arriscar se ele já terá o acordo de paz em suas mãos ou não. Mesmo assim, o grande desafio de implementação de um acordo, com Uribe liderando a oposição de dentro do Senado, já é um cenário que deve ser enfrentado com coragem.

A volta do maracanaço na Copa do Mundo de Futebol da FIFA no Brasil

O bom filho à casa torna: o Brasil estará pronto para receber o futebol em junho. Mas, ao contrário da Copa das Confederações, vencida pela seleção canarinho no ano passado, o Brasil não será hexa-campeão do mundo em 2014. A História tem um jeito curioso de fazer-se repetir. É por isso que, segundo nossa previsão, vamos voltar a presenciar um maracanaço semelhante à traumática final contra o irmão Uruguai na Copa de 1950. É possível que dessa vez o adversário não seja o Uruguai. Mas a Copa do Mundo deverá ser levantada por um de nossos hermanos latino-americanos no dia 13 de julho. E dados os famosos problemas com o trânsito da Cidade Maravilhosa, leva a Copa pra casa o time que conseguir chegar primeiro ao Maracanã!