quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Ela voltou...Inflação se cuide!






Ela voltou. Vocês já perceberam isso nas compras de todo dia. Entenda-a e mostre à sua turma como calcular as variações de preços.
A inflação foi o terror da economia brasileira durante 30 anos, andou sumida, mas no ano passado voltou a assombrar. Antes mesmo de os índices oficiais serem divulgados, todos sentimos o impacto no póprio bolso. No mercado, nas lojas e talvez até na cantina da escola os produtos ficam mais caros, às vezes sem explicação aparente. Intuitivamente, a maioria das pessoas sabe que inflação é uma alta generalizada de preços, com a conseqüente diminuição do poder de compra dos salários — ou das mesadas. Ao levar esse tema para a classe, você fará com que os estudantes tenham contato com noções de economia e poderá trabalhar os conceitos de proporção, porcentagem e juros.

1. Tipos de inflação

De custo: É a que o Brasil vive no momento. No ano passado, o dólar passou de 2,35 para 2,45 reais em cinco meses, pelas especulações em torno das eleições e da ameaça de guerra no Oriente Médio. As mercadorias com componentes que vêm de outros países (preços em dólares) encareceram. É o caso do pão, feito com farinha de trigo importada. O petróleo — de onde vêm a gasolina e o gás de cozinha — subiu e com isso aumentaram os custos de produção e de transporte.


De demanda: Em 1986, depois do Plano Cruzado, o congelamento de preços incentivou o consumo, mas a indústria não produziu mais. Apareceu o ágio. Quem tinha o produto só vendia por um preço acima do estipulado.


2. Ela é boa ou ruim?

Descontrolada, a inflação corrói os salários, principalmente do trabalhador de menor renda, que não consegue investir e proteger o poder de compra do dinheiro. Todos perdem a noção de valor das coisas. Um comerciante não sabe quanto cobrar pelas mercadorias: preços baixos estimulam as vendas, mas não geram renda para repor os estoques; preços altos afastam os consumidores. Inflação zero também é ruim, pois significa que não há sobra para investimentos que aumentam a produção e o nível de emprego.

Uma taxa baixa e controlada — entre 2% e 4% ao ano — leva ao crescimento gradual da economia. O leve aumento de preços gera lucro e as empresas podem reinvestir na produção.

3. Como se controla?

Atualmente o principal mecanismo de controle da inflação é a chamada taxa de juros básica da economia, definida periodicamente pelo Comitê de Política Monetária do Ministério da Fazenda. Quando ela sobe, cai o volume de dinheiro em circulação no país, pois aumenta o interesse das pessoas em poupar e receber os juros pagos pelas aplicações financeiras. Ao mesmo tempo, a procura por empréstimos fica menor e os preços tendem a baixar com o pouco consumo. Resultado: a inflação vai perdendo a força. Já quando a taxa de juros é baixa, consumir torna-se mais atraente do que poupar. O dinheiro volta a circular no mercado, há mais procura por mercadorias e serviços e com isso os preços sobem. Outras formas de manter a inflação sob domínio são a política cambial (relação entre o real e o dólar ou outras moedas estrangeiras) e uma política econômica capaz de atrair investimentos externos e, com isso, aumentar a produção de riquezas. A existência de estabilidade política e de confiança no governo também ajuda, pois faz com que se instale um ambiente de previsibilidade, permitindo aos donos do capital planejar seus gastos e antever o retorno de seus investimentos.


4. Como se mede?

Institutos de pesquisa analisam quanto famílias de diversas faixas de renda gastam com alimentação, roupas, aluguel, transportes, saúde, educação, lazer, comunicação e despesas em geral. Com base nessa cesta básica, mostram a variação dos preços. A exceção é o IGP-M da Fundação Getúlio Vargas, no qual esses gastos respondem por apenas 30% do índice. É por isso que há vários números de inflação no país. Conheça os principais na tabela abaixo.


Índice
Instituto Medidor
Base de apuração
Local da pesquisa
Principais usos

IPCA
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo

IBGE 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Custo de vida de famílias que recebem até 40 salários mínimos
Nove capitais
Base para o Banco Central fixar metas de inflação

INPC
Índice Nacional de Preços ao Consumidor

IBGE 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Custo de vida de famílias com renda de até 8 salários mínimos
Nove capitais
Sindicatos patronais, para orientar reajustes de salários

IPC
Índice de Preços ao Consumidor

Fipe 
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP
Custo de vida de famílias com renda de até 20 salários mínimos
Município de São Paulo
Reajuste de aluguéis e mensalidades escolares

IGP-M
Índice Geral de Preços

FGV 
Fundação Getúlio Vargas
Preços no atacado (60%), custo de vida de famílias com renda de até 33 salários mínimos (30%) e preços da construção civil (10%)
Todo o país
Mercado financeiro, reajuste de aluguéis e como indexador de tarifas públicas (luz, água etc.)

ICV
Índice do Custo de Vida

Dieese 
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos

Média dos gastos de famílias de três estratos de renda média:
1º. R$ 377,40
2º. R$ 934,17
3º. R$ 2792,90
Município de São Paulo
Sindicatos dos trabalhadores, para reivindicar reajustes salariais

Histórico

O Brasil detém o recorde de ser o país que durante mais tempo viveu com preços descontrolados. A inflação chegou a 1630% em 1989 e bateu em 2490% em 1993. Seis planos econômicos e cinco trocas de moeda em sete anos tentaram domar o monstro, que teve seu crescimento acelerado nos anos 1970, com o "milagre econômico". A meta era crescer a qualquer custo. O poder público era o grande gerador de empregos, construindo estradas e hidrelétricas, gastos que não geravam riqueza. Para cobrir suas despesas, o governo emitia papel-moeda. Mais dinheiro em circulação dava sensação de alto poder aquisitivo, mas não havia bens para atender à demanda por consumo. Com isso os preços subiam. "Os salários se esfacelaram e a economia quase entrou em colapso", recorda-se o economista José Dutra Sobrinho. Indústrias não investiam em produção, pois o mercado financeiro dava mais retorno. O Plano Real, em 1993, quebrou esse círculo vicioso e fez com que a inflação fosse mantida em patamares razoáveis. A Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada em 2000, prevê punições para os governantes que gastarem mais do que o arrecadado, o que inibe a volta da inflação causada pelo aumento dos gastos públicos.




Inflação na cantina

Inflação de 2002: 12,93%
Acompanhar a evolução dos preços na cantina escolar pode ser um trabalho interessante e envolvente. Proponha que os alunos levantem os preços praticados no ano passado e comparem com os atuais. Hipótese: se em 2002 o cachorro-quente custava R$ 1,30 e em 2003 passou para R$ 1,50, os 20 centavos de diferença representam uma variação de 15,38%, enquanto a inflação de 2002 calculada pelo Dieese foi de 12,93%. Ou seja, subiu mais que a média dos preços no país.


Questão 1

Calcular a inflação acumulada

Se durante os dois primeiros meses do ano a inflação foi de 20%, a inflação acumulada não é 40%, mas 44%.
 Para um índice de 20%, a taxa de variação é de 1,2.
 Para encontrar a inflação acumulada deve-se calcular 1,2 x 1,2 = 1,44.
 A inflação acumulada é de 44%. 
Segundo o Dieese, os índices em janeiro e fevereiro foram 2,92% e 1,35%, respectivamente. Qual é a inflação acumulada nesse período?


Resolução

Preço no dia 1º/jan/2003100
Preço no dia 1º/fev/20031,0292 x 100 = 102,92
Preço no dia 1º/mar/20031,0135 x 1,0292 x 100 =
1,0135 x 102,92 =
104,30942 = 104,31 (arredondando).
Portanto, a inflação foi de 4,31%

Questão 2


Depois de quanto tempo o preço das mercadorias dobra?
Use índices fictícios quando quiser que os alunos adquiram intuição em relação a índices inflacionários. Suponha um país em que os índices de inflação mensal giram em torno de 10%. Depois de quantos meses os preços dobram?


Resolução

Com uma calculadora de bolso na mão esse problema pode ser resolvido em alguns segundos. Se o preço de um produto é p, depois de um mês estará custando 1,1 x p, depois do segundo mês 1,1 x 1,1 x p, e assim por diante. Os preços estarão dobrados quando 1,1 x 1,1 x 1,1 x...1,1 x p ³ 2 x p. Tecle 1,1 x 1,1 = = = = (o sinal de igual faz com que a multiplicação ocorra com o mesmo fator) e observe o visor para saber quando o resultado passa de 2. No problema em questão, os preços dobram após o sétimo mês — sendo sete o número de vezes que você apertou a tecla =.


Questão 3


Por que a inflação do vizinho é diferente da minha?

Os índices de inflação usados pelo governo não coincidem 100% com a vida de ninguém, pois cada um tem hábitos de consumo diferentes. Se sou vegetariano, a alta dos preços da carne não provoca mudanças nos meus gastos com alimentação. Já um mês de chuvas faz com que as verduras encareçam. Proponha uma pesquisa na qual os alunos façam um levantamento de seus gastos pessoais e os acompanhem mês a mês. Dessa forma eles calcularão a taxa de inflação pessoal