sexta-feira, 19 de julho de 2013

Por que as empresas mentem?

Os questionamentos sobre a verdade remetem à história da filosofia. A sua busca tem ligações com a trilha que nos leva a traduzir muito de nossa essência. Buscamos formular uma razão que estabeleça um modelo para definir a exatidão das coisas, resultado da combinação de fatos que possam caracterizar uma veracidade unânime: o que chamamos de realidade.
A experiência nos mostra que a verdade não é tão objetiva e coletiva assim.
Se não podemos ter a realidade que desejamos, a manipulamos (ou disfarçamos, vá lá) e a construímos conforme nossos anseios, ou os anseios de quem está no comando. A comunicação tem sido um instrumento para a definição de um discurso corporativo capaz de fazer sentido para clientes, colaboradores e opinião pública.
Nenhuma empresa admitirá que mente.
Ela trabalha publicamente com versões, bem assessorada pela assessoria de imprensa, por um lado, e por advogados, por outro. Mas qualquer organização é refém de seus atores e de suas atitudes, reflexo de um ambiente que abriga manifestações de ciúme, inveja, ódio, rancor, maledicência, maldade e cobiça, bem como de amor, altruísmo, companheirismo e solidariedade .
Mentimos, apesar de qualquer mandamento que nos diga o contrário. Desconsiderando os modelos de transparência, os manuais de conduta, os relatórios de resultados e as condições de governança corporativa, e nos pegamos confrontando a realidade.
Por que mentimos?
Por medo. Sob o risco de ter revelada nossa incompetência, se podemos ser punidos, para não perder uma oportunidade ou se a demissão parece uma consequência provável, mentimos para escapar da realidade que nos parece adversa.
Por poder. A manipulação da informação e da interpretação dos fatos é considerada uma maneira de exercer poder sobre os pares. A transparência assusta e pode revelar as fraquezas de quem quer se manter no comando. Nessa direção, a mentira pode ser praticada nas seguintes condições: desviar o foco, especulação, chantagem ou intimidação.
Sem dolo, as pessoas podem mentir por omissão (escondendo aspectos relevantes) ou
 por erro de interpretação dos fatos.
Ciente dessas condições, as empresas perderam progressivamente a crença nas pessoas e começaram a olhar a realidade a partir dos relatórios de desempenho (agora expondo o erro em tempo real por meio de avançadas tecnologias).
A confiança nos números substituiu a confiança nas pessoas e acabou se tornando o principal orientador das decisões tomadas (em parte, essa constatação se reflete na importância que os executivos de finanças conquistaram em detrimento aos diretores de RH.
Muitas vezes, os bons desempenhos comerciais fazem uma cortina de fumaça sobre os meios para atingi-los. No DNA corporativo, no final das contas, as políticas, princípios, valores, responsabilidade social e modelos de gestão estão submetidos perigosamente aos números.
Embora persistentes, as mentiras não duram para sempre. Para sair dessa cilada, reforço dois aspectos:
  1. Tenho a convicção de que uma verdade só se mantém em pé se permitir a sua própria refutação. O teste da sua própria resistência, quando confrontada com a realidade, é a essência do pensamento científico contemporâneo. Esse confronto constante deve ser estimulado, mesmo frente a dureza dos números;
  2. A cultura deve deixar de ser letra morta porque dela depende a incorporação dos verdadeiros valores pregados para cada empresa alinhados com os praticados pelos colaboradores. Os valores pessoais determinam as escolhas que fazemos em nossas carreiras. A partir daquilo que aprendemos, acreditamos e valorizamos, tomamos as decisões que valerão para toda a vida e determinarão nossos sucessos e fracassos.
Na verdade, no mundo corporativo a verdade é muito "subjetiva"!!!  -- Denilson Forato