sábado, 31 de agosto de 2013

Me demitir, nunca! Me mandem embora!

Vou contar uma história que acontece todos os dias nas empresas. A conversa é sempre a mesma: "Eu queria fazer um acordo, sabe? Se vocês me mandarem embora, daí eu não perco o seguro-desemprego e também posso pegar o Fundo de Garantia." Não são apenas os que têm anos de casa e, portanto, juntaram um bocado de dinheiro no FGTS que dizem isso. Mesmo os que chegaram ontem vêm com essa história. 
Antigamente, eles pelo menos propunham um acordo - devolver a multa sobre o FGTS e o valor correspondente ao aviso-prévio. Hoje, eles pedem para levar tudo mesmo. Se a gente não topa, fica com reputação de empresário malvado. Se topa, cria um problema - no mês seguinte aparece outro querendo a mesma coisa.
Para pôr a mão na grana extra, o pessoal mancha a Carteira de Trabalho sem necessidade. Fico imaginando o sujeito, na entrevista do próximo emprego, explicando que foi mandado embora, mas não foi. Que foi só um jeitinho de passar por cima da lei, como se isso não tivesse nada demais.
Para mim, tem. Eu sei que demissão fantasma virou coisa normal. Mas não é por ser normal que é correto. Afinal, é uma mentira. E, se a pessoa mente, bom sinal é que não é. 
Fico pensando por que será que esse comportamento virou padrão. Há uns 25 anos, quando era Coordenador Administrativo de uma grande Magazine , as pessoas se contentavam com o salário sempre em dia, convênio, prêmios, e com a oportunidade de subir na empresa. Era o que  podíamos oferecer. Mesmo assim, muitos aceitaram. Tinha funcionários com mais de 20 anos de casa - gente que começou como office-boy e depois virou  gerente.
Virou moda falar que, para dar certo, uma empresa precisa repartir lucro, emprestar dinheiro, promover passeios de bicicleta, colocar as pessoas em botes para descer o rio e sei lá mais o que para mantê-las motivadas. Mas motivação é algo que está dentro da pessoa. Tem gente que está sempre motivada. E tem gente que, não importa o que receba, vive reclamando do mundo.
Se oferecemos vale-refeição, a pessoa pede vale-bebida. Se da­mos vale-transporte, quer vir de carro e também receber o vale-transporte. Pagamos seguro-saúde, e ela quer assistência para a família inteira,  mais a ex-mulher ou o ex-marido. Damos bolsa de estudo, e a pessoa vem pedir para sair mais cedo nos dias de prova. Pagamos seguro de vida, e ela pede seguro-funeral. Nada disso prende alguém cuja mentalidade é pular de emprego em emprego.
Que não me venham esses especialistas em recursos humanos falar de "retenção de talentos", como se a culpa fosse nossa, dos gestores. Esse pessoal já era impaciente  desde que nasce, bem antes de aparecer aqui neste mundo . Recebi jovens de apenas 25 anos com mais de oito registros na carteira. Gente assim é talento? 
Tive funcionárias que nada estava bom, o horário era ruim, o ambiente era ruim, o chefe era ruim, a empresa era ruim, só ela era a boa!  Hoje ela não faz mais parte do quadro, por ser "boa" demais para a empresa!